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Adílio de Aguiar Cordeiro

1987 - 2020

Um tio inspirador, que sonhava ser motorista, amava Tainha e, como um irmão, foi parceiro de vida e pescaria.

Adílio nasceu e cresceu em Cananéia, cidade calma e tranquila do litoral paulista. Entregador e repositor num mercado local, sonhava em ser motorista. Dirigia carro e moto, mas ainda estava se preparando para tirar a carteira que o habilitasse a dirigir ônibus em viagens. Nas horas vagas, trabalhava como jardineiro, atividade durante a qual aproveitava para descarregar todas as energias ruins “e transformá-las em algo bom”. Tinha prazer em ver uma árvore bem podada e um gramado cortado e limpo.

"Sempre muito família", Adílio foi casado com Vanessa. E tornou-se especial também para o sobrinho Willian, como fruto de uma convivência constante. “Era como um irmão mais velho para mim.” Por serem muito parecidos fisicamente, numa viagem que fizeram juntos, todos acharam que eram irmãos de verdade, conta o sobrinho dando gargalhada.

Nos encontros de família, momentos em que demonstrava sua alegria e calma, Willian conta que era impossível ficar de baixo astral quando ele estava por perto, pois Adílio, de alguma forma, sempre conseguia arrancar um sorriso. Como exemplo, o sobrinho lembra da festa de 6 anos da prima Yasmim. Nesse dia ele usou os enfeites de mesa e fez deles uma peruca. Pegou os brinquedos e começou “a fazer palhaçada”, o que tornou a noite muito agradável e divertida para todos.

Além disso, ajudar a quem precisava foi outra marca de Adílio. “Sempre que precisávamos, ele estava lá. Disposto a fazer o que fosse preciso.” O mesmo acontecia na igreja onde ele foi pastor numa comunidade pequena. Sempre organizavam campanhas para coleta de roupas e brinquedos para o dia das crianças.

No olhar de Willian, a paisagem que melhor define o tio é a de um píer avançando sobre o mar “bem em calmaria”. A imagem usada pelo sobrinho, foi a senha para que contasse sobre um momento muito especial para os dois: as pescarias. Sempre que podiam, iam pescar na praia ou no canal que contorna a cidade. E na espera dos peixes, aconteciam boas e longas conversas sobre a vida. Nas palavras do sobrinho “a tarde parecia que se prolongava”. Depois seguiam para a casa da mãe de Adílio, dona Ruth de Aguiar. À beira do fogão a lenha, preparavam os pescados, sendo a Tainha o peixe preferido do tio. Com a ajuda dos dois, dona Ruth preparava saborosos peixes ensopados, assados e recheados.

Em síntese, para Willian, Adílio foi parceiro, companheiro e conselheiro. “A maior inspiração para mim, por sua garra e persistência. E por me mostrar que nunca a gente deve desistir de nada.” Dos conselhos que recebeu do tio, o sobrinho guarda na memória o dia em que “ele me disse que, apesar de qualquer situação, para nunca abandonar a família, pois é o bem mais precioso que temos.”

Adílio nasceu em Cananéia (SP) e faleceu em Cananéia (SP), aos 33 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de Adílio, Willian Cordeiro Franco. Este texto foi apurado e escrito por Ernesto Marques, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 4 de maio de 2021.