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Alexandre Augusto Vidal

1972 - 2021

Quando criança, economizou o dinheiro do lanche para devolver o valor que havia pegado emprestado do avô.

Alexandre, ou simplesmente Xan, era uma pessoa que se dedicava à família, fazendo de tudo para deixar a vida mais leve. Era uma pessoa extremamente positiva e achava sempre que tudo iria ser resolvido. Quando via a esposa preocupada, dizia: “Calma, vai dar tudo certo” — e, no final, dava tudo certo mesmo!

Muito otimista, via o lado bom de qualquer situação. Era calmo, paciente, bem-humorado, inteligente e apaixonado pela vida. Um de seus maiores orgulhos era ter participado da Meia Maratona Internacional de São Paulo e ter corrido várias vezes na Corrida Internacional de São Silvestre. Sua fisionomia era séria, porém, ao se tornar próximo de alguém, revelava-se uma pessoa muito engraçada, que adorava contar piada, fazendo todos rirem com sua gargalhada. Era também muito família e procurava se dedicar inteiramente à mulher e ao filho, estando sempre com eles, e o fato de viverem em Santos enquanto os demais parentes residiam em Belo Horizonte tornava esse trio ainda mais unido.

Ele nasceu na capital mineira. Desde cedo, já era uma criança muito educada. Sua mãe conta que, quando ele tinha uns 9 anos, pediu ao avô dinheiro emprestado para comprar um guarda-chuva, e o avô lhe fez o empréstimo sem contar com a devolução. Mas Alexandre, que desde pequeno era responsável, economizou o dinheiro do lanche na hora do recreio para juntar a quantia e reembolsá-la. Quando o fez, ficou clara a virtuosidade do pequeno Xan, o que deixou seu avô bastante emocionado.

Alexandre era muito bom em tudo que fazia e muito detalhista. Fez curso de Administração, falava inglês fluentemente e viajou para várias partes do mundo devido ao seu trabalho na área comercial de uma indústria petroquímica em Cubatão (SP), local onde trabalhou durante quatorze anos. Na empresa, negociava os contratos, além de ter deixado o seu sorriso único e sua dedicação ímpar como marcas registradas. Quanto às viagens, conheceu Índia, Estados Unidos, Espanha, Itália, Portugal, Canadá, entre outros países — dentre todos eles, a Turquia era o que mais o encantava e, até seu último momento de lucidez, alimentou o sonho de levar a esposa para conhecer a Mesquita Azul.

Alexandre e Fabiana conheceram-se no trabalho, durante o primeiro dia dela como estagiária, e foram apresentados um ao outro no meio da fábrica. Ela logo se tornou colega do supervisor de operação que era amigo dele e almoçava com ele todos os dias. Logo, passaram a almoçar os três juntos e, depois duas semanas, veio o pedido de namoro no meio do expediente, com a pergunta camuflada no meio de um buquê de rosas: "Quer namorar comigo?"

Com isso, já se percebe que ele era muito romântico. Um cavalheiro, do tipo que abria a porta do carro e preocupava-se com a segurança da mulher, querendo ficar com ela até ambos se tornarem bem velhinhos. Quando utilizavam a escada rolante, se era para subir, ele ficava atrás dela e, se era para descer, ficava à sua frente para ampará-la caso ela se desequilibrasse. Fabiana recorda saudosa: “Todos os dias de manhã, quando ele me via arrumada para o trabalho, ele falava 'Que linda, amor!', com os olhos brilhantes. Fazia eu me sentir a mulher mais linda de todos os tempos!"

Seu maior dom era a negociação, e isso o levava a fazer excelentes negócios tanto para a empresa como para sua família. Com relação a isso, conta a esposa Fabiana: “Quando a gente foi comprar um imóvel em Santos, não tínhamos dinheiro algum para a entrada. O corretor de imóveis falou com ele e explicou que não havia como nos vender o imóvel se não déssemos uma entrada. Pois ele negociou, negociou e deu apenas dois mil reais de entrada. Foi inacreditável! Ele conseguiu convencer, e o negócio foi para frente: compramos o imóvel”.

Xan elogiava muito o trabalho de Fabiana como psicóloga no hospital. Sensível, emocionava-se com as histórias que ela contava. A relação com o filho também era de muito carinho. Fazia questão de estar em casa todas as sextas-feiras, por volta das 19h30m, desde quando o filho começou a aparecer na televisão como repórter. Logo depois de ver sua performance, mandava inúmeras mensagens de texto cheinhas de elogios, dizendo como estava orgulhoso e incentivando-o com as palavras: “Para o alto e avante”.

A esposa recorda-se saudosa: “Fomos casados por vinte e quatro anos e sete meses, e, todas as manhãs, seu primeiro pedido era: 'Me dá um abraço?'". Ele passou o Dia dos Namorados de 2021 no hospital, e Fabiana lembra o trecho de uma música que ele cantou para declarar seu amor mais uma vez, dizendo: “Amor, hoje é Dia dos Namorados! 'Deixa eu dizer que te amo, deixa eu gostar de você, isso me acalma, me acolhe a alma, isso me ajuda a viver. Amor, I love you, amor, I love you.'”

Alexandre nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu no Guarujá (SP), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Alexandre, Fabiana Rodrigues Pereira Vidal. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Vera Dias, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 3 de abril de 2022.