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Annita Cani Bizzi

1926 - 2020

Trazia no peito uma fé inabalável; tinha um terço de prata e outro de ouro, reservado para as causas mais difíceis.

“Minha vó era a pessoa mais religiosa que conheci em toda minha vida”, diz a neta Brunella. Rezava na certeza de poder interceder por todos, junto a Deus; e manteve-se forte em sua fé, mesmo após a perda do marido e de três filhos. Devota de Nossa Senhora do Caravaggio, rezava até pelas amigas da neta, que diz nunca ter conhecido uma oração mais forte que a de Dona Nita. Quando a causa era complicada, usava seu terço de ouro, que segundo ela, era mais poderoso.

Nos últimos meses de vida, passou a acreditar que o padre a via através da televisão durante a missa e queria conhecer sua família. Então pedia que todos se apresentassem a ele. As mãos que contaram muitos terços também curavam as tristezas da neta, com massagens nos pés e carinho. “Ela falava para eu não ficar triste, porque Deus era quem decidia tudo.”

Como uma boa "nonna", Vovó Nita tinha sua própria receita de capeletti, que marcou a vida dos netos, assim como o pão de coco, que fazia questão de mandar para o neto que vivia em Salvador. Quando deixou de cozinhar por conta da idade, comprava o pãozinho e falava que ela mesma tinha feito, para que o neto não ficasse triste.

Muito sensitiva, dias antes de falecer sonhou que estava no céu e que era um lindo lugar, onde certamente foi recebida com festa ao fazer a passagem no dia de seu aniversário.

Annita nasceu em João Neiva (ES) e faleceu em Colatina (ES), aos 94 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Annita, Brunella Altoé Bizzi. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Rita de Cássia de Almeida Souza, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 7 de dezembro de 2021.