Sobre o Inumeráveis

Bernardina Alves dos Santos Aquino

1957 - 2021

Apaixonada pelas rosas do deserto possuía uma coleção, com diversas cores, sendo a de pétalas vinho sua favorita.

A história de Bernardina começa em uma pequena cidade do interior de Pernambuco. Ali durante a infância viveu momentos de dificuldade com os irmãos, o que a fez ainda criança se mudar para São Paulo onde vivia sua irmã mais velha. O costume era que as moças vindas do nordeste arrumavam trabalho como empregadas domésticas e ela quando ficou mocinha serviu a esse ofício.

Um tempo depois ela mudou-se para o Rio de Janeiro, onde conheceu o rapaz que seria o futuro marido, um gaúcho militar que servia na cidade maravilhosa. O primeiro encontro se deu em uma festa de amigas dela que por feliz coincidência eram vizinhas dele. Depois dessa festa, ele só aceitava convites para festas se Bernardina estivesse entre as convidadas. Não demorou para os dois começarem a namorar. Logo veio o pedido de casamento, união que durou exatos trinta e cinco anos. Como ela não tinha parentes no Rio, o pedido foi feito ao então patrão dela, que era como uma pessoa da família, e mais tarde tornar-se-ia padrinho da filha. Pedido aceito, mão concedida em casamento, a cerimônia ocorreu no Rio Grande do Sul, terra natal do noivo.

Irmã Tida, como era conhecida na igreja, professava a fé na religião evangélica. Tinha como característica o zelo nos cuidados com os afazeres da igreja. Fazia de tudo um pouco, quando atuava como recepcionista muitos elogiavam o seu sorriso acolhedor. Ela também fazia parte do coral de senhoras e sempre ajudava na organização da ceia ou em qualquer evento que fosse acontecer na igreja, como eventos de caridade, arrecadação de alimentos para formar cestas básicas e bazares. Sempre estava disposta a ajudar. Para ela não existia preferência por tipos de eventos, era sempre a mesma dedicação e divertia-se muito especialmente nos eventos das senhoras da igreja. Tinha muito entusiasmo até mesmo nas rotinas religiosas e algumas vezes contava com a ajuda dos filhos em eventos o que a deixava bem contente.

Seu interesse pelas plantas vem de sua origem nordestina. Além das rosas do deserto, que tanto amava, floriam seu jardim também orquídeas e até um pau-brasil ela cultivava. O cuidado com as plantas se traduziu no hobbie de regá-las todo fim de tarde, sendo uma das tarefas que executava com a filha. Esse jardim era mantido em uma área nos fundos do prédio onde ela morava. Bernardina tinha o sonho de voltar a morar em uma casa com um grande quintal, como era no Rio de Janeiro, onde além de ter plantas na lateral da casa tinha um enorme quintal. Para a filha, o contato da mãe com as plantas era um momento de meditação, que ela aproveitava para falar com Deus.

Quem pensa que a Bernardina era apenas uma doce senhora da igreja que cuidava de plantas está muito enganado. Ela era super conectada! Gostava de joguinhos de celular, e amava assistir séries policiais como NCIS e CSI, sendo sua favorita: NCIS e era fã do personagem Gibbs. Muitas vezes juntava toda a família para assistir com ela. Também gostava de falar ao telefone e de passear no shopping, podia não comprar nada, mas amava ir só para dar uma voltinha, às vezes tomava uma casquinha de sorvete e, quando não, comia um sanduíche.

Com o casal de filhos viveu momentos de muita alegria e emoção. Juntos na cama bagunçavam e riam alto vendo memes e vídeos engraçados no celular. Tinha a mania de manter as tomadas “triway” sempre na mesma posição, mesmo que tivesse que sair de um lugar para outro só para alinhá-las o que era engraçado. Em termos de emoção mais que especial foi o momento da formatura da filha. “Nada mais justo que na minha formatura ela estivesse ao meu lado para receber meu diploma” lembra com orgulho a filha. O sucesso dos filhos e a realização de sonhos a enchia de felicidade.

“Era uma mulher forte e de personalidade. As respostas sempre estavam na ponta da língua, mas ninguém conseguia ficar chateado com ela” lembra a filha. Era teimosa em muitos momentos e vaidosa com os cabelos que estavam sempre bem cuidados e mantidos com comprimento sempre longo. “Ela tinha a risada fácil, qualquer vídeo engraçado ou piada já conseguia o lindo sorriso dela. Em algum momento descontraído entre os irmãos da igreja sempre saía alguma risada, era mais difícil vê-la fazer os outros rir, a risada e o sorriso dela já valiam para isso. Era uma risada que contagiava, as pessoas riam junto com ela”, conta a filha Tatiane.

Bernardina nasceu em Jatobá (PE) e faleceu em Natal (RN), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Bernardina, Tatiane Aquino. Este tributo foi apurado por Marina Gabriely, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Emerson Luiz Xavier e moderado por Rayane Urani em 9 de agosto de 2021.