1948 - 2020
Sempre sorria nos encontros com outrem. Empatia, generosidade e amor eram presentes em suas narrativas e ações.
Bertolina teve uma infância tranquila; infelizmente, perdeu a mãe quando tinha apenas 16 anos. Seu pai casou-se novamente, e sua relação com a madrasta foi sendo construída dia a dia, sempre da forma mais saudável e equilibrada possível.
Conheceu José Gaspar em Buriti Alegre quando ele, quatro anos mais velho, foi dar aula de Educação Física na escola onde Bertolina estudava. O encontro rendeu uma grande paixão, mas José já era noivo de outra moça, que morava em Goiânia. Ele rompeu o compromisso e começou a namorar Bertolina, até que pediu a sua mão em casamento. Com o consentimento do sogro, levou a amada ao altar.
Bertolina engravidou primeiro de Alexandre e três anos depois de Cristhiano. Nesta época, ela recebeu a parte das terras a que tinha direito da herança da mãe. Juntos, Bertolina e José optaram por vender a terra e tentar a vida em Araguaína, no Tocantins, onde começaram uma nova vida. Foram anos de muita felicidade e de amor. A relação dos dois era a de um casal normal: as vezes se desentendiam, mas estavam sempre juntos. Até a partida deles foi uma próxima da outra — sete meses de diferença.
Bertolina tinha uma ótima relação com os dois filhos. Estava sempre alegre, brincando e preocupada com eles. Dizia o tempo todo que os amava e quando estava perto ficava sempre abraçando e beijando. Foi sempre muito presente.
Com os quatro netos — Maria Eduarda, Camille, Pedro e Mariane — a relação era mesmo de avózona: fazia os gostos deles, ninava, bajulava e dava muito amor.
Bertolina não trabalhava fora, cuidava da casa e dos netos, sempre com o rádio ligado ouvindo músicas. Quando o dia terminava, era o seu momento de ver novelas.
Também gostava de ajudar os vizinhos e sempre que podia atuava nessa parte social. Preocupava-se com as crianças e com os idosos. "Moramos em um condomínio de mais de 190 apartamentos e ela ajudava quem ela via que precisava. Arrecadava remédios, roupas, móveis usados, comida, cestas básicas. Ajudava com palavras, como ouvinte, dava conselhos, o ombro amigo e orações. Preocupava-se com o asilo de velhinhos que tem no nosso bairro e com a escola ao lado do condomínio; além das doações de alimentos, também dava brindes para as festas".
Estava sempre alegre e com um sorriso acalentador, sincero e cheio de amor. Ela gostava de fazer rir, com suas histórias, causos, piadas e brincadeiras. Ela era só alegria!
"Depois que minha mãe partiu, uma vizinha me contou que assim que se mudou para cá estava passando por muita dificuldade. A minha mãe soube, foi até ela e passou a ajudá-la levando frutas, leite e bolachas para as crianças pequenas. Ela estava com um recém-nascido, o marido não tinha dinheiro nem para pagar o ônibus, e minha mãe mobilizou todos os outros moradores do condomínio para ajudá-los. Esta mulher conta que estava triste na época, pois sua mãe havia ficado em outra cidade, mas que a minha cuidou dela como filha. Deu carinho e afeto para ela conseguir superar aquela fase. E deu certo. Ela e família ficaram bem e felizes com o que a minha mãe fez por eles; foi importante para eles ficarem bem."
Bertolina deixa o ensinamento mais precioso que Jesus pregou: o amor ao próximo. Ensinou que devemos respeitar todas as pessoas sem fazer discriminação de raça, de orientação sexual. Ensinou que devemos ser humildes e honestos, que é dando que se recebe. Que a alegria de viver, o amor a Deus, o perdão nos torna cidadãos de bem.
"O amor que sinto por ela está eternizado na minha alma e no meu coração, com a esperança de que um dia nos encontraremos novamente."
Bertolina nasceu em Buriti Alegre (GO) e faleceu em Goiânia (GO), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de Bertolina, Alexandre Cardoso Nascimento. Este tributo foi apurado por Denise Stefanoni, editado por Rayane Urani, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 8 de abril de 2022.