1956 - 2020
Um escritor de cartas e memórias, fazia questão de deixar registradas as experiências da vida.
Nasceu no interior de Minas, foi o terceiro filho entre sete irmãos. Na infância era conhecido como Robertinho pela criançada, ele era ótimo jogador de bola. Precocemente conheceu o sentimento saudade, sua mãe faleceu aos 37 anos. Com sua partida, ele - aos 15 anos -, mais dois irmãos, passaram a viver em um colégio interno amparados por suas duas tias freiras. Lá estudou e trabalhou por aproximadamente quatro anos.
Carlos Roberto era amoroso na forma de lidar com a família, sempre se interessava em saber se todos estavam bem e gostava de manifestar seu apreço por meio da escrita - por sinal, tinha uma caligrafia linda. Sua irmã Rosângela exemplifica essas qualidades contando: "Ele escreveu uma carta para a minha netinha quando ela nasceu nos EUA que eu mandei plastificar para quando ela já estiver lendo. Nela ele escreveu maravilhosamente bem uma mensagem para ela, na qual fala da minha filha também. Lindo, lindo, lindo.
Ele era bastante protetor, com frequência perguntava como estava meu relacionamento, como é que eu estava vivendo. Eu estive doente uma época e ele veio aqui e me deu um beijo no rosto, os olhos dele encheram-se de lágrimas. Ele demonstrava preocupação, amor, carinho". Possuía uma relação muito cuidadosa com seus irmãos, tomava as dores quando julgava necessário e fazia muita questão de que todos recebessem os melhores tratamentos possíveis.
Era metódico, gostava de tudo muito bem organizado, sua casa estava sempre impecável. Se por acaso precisasse consertar algo que ele não sabia resolver, pesquisava até descobrir. Quando Carlos Roberto tinha cerca de cinquenta anos ele se acidentou no trilho do trem e perdeu um braço, fatalidade que não o limitou em nada - "Nunca me chamou atenção ele não ter um braço porque ele fazia de tudo, de passar roupa a pregar botão. Temos um irmão com esquizofrenia, hoje quem cuida dele sou eu, mas antes era Carlos quem cuidava dele - fazia almoço, jantar, costurava algum botão que caísse, arrumava alguma coisa que precisasse costurar. Ele se virava muito bem com tudo e nunca reclamou de ter perdido o braço. Nunca o vi se lamentar" relembra Rosângela.
Trabalhou como auxiliar administrativo no cemitério da Paulicéia; lá possuía ótima relação com seu chefe. Nos momentos livres divertia-se com jogos no celular.
Carlos foi pai de Daniela e de Camila, e avô de Gael, Theo e Bernardo. As circunstâncias da vida o fizeram não manter um relacionamento tão próximo quanto queria com as filhas, talvez esse fosse o grande pesar da vida dele. Carlos tinha planos de mudar de vida, de viajar para outro estado, e visitar os irmãos que moravam longe.
A irmã Rosângela conta o quanto sente saudades de Roberto, mas sua dor é amenizada pelas lembranças boas e pelas fotos que ela guarda dele - "Eu tenho fotos aqui dele me abraçando; nelas ele está rindo, e eu também".
Carlos nasceu em Ouro Fino (MG) e faleceu em São Bernardo do Campo (SP), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Carlos, Rosângela. Este texto foi apurado e escrito por , revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 3 de dezembro de 2021.