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Dermival Pereira Maia

1956 - 2021

Usava seus dons para ajudar com consertos, fosse carro ou problema doméstico, conseguia dar um jeito em tudo.

Caçula de uma família numerosa, Dermival deixou a Bahia com 11 anos. Assumiu responsabilidades de adulto ainda na meninice para ter uma vida melhor. Em São Paulo, a irmã Maria o acolheu, foi praticamente uma mãe, ele a tinha em alta conta.

Mas havia outra cidade no destino de Dermival. De São Paulo ele foi para Paranavaí, no Paraná, onde criou raízes. Conheceu o amor de sua vida quando pediu à então moradora do lado da república um pouco de cana para saborear. Osória passou de vizinha a namorada e depois à esposa de Dermival. Tiveram três filhos: Regiane, Renata e Rafael.

De acordo com Regiane, os dois eram o típico casal que se implica o dia todo, mas que carinho e respeito estão acima de tudo.

O baiano trabalhava em uma transportadora, porém, os talentos e a jornada iam muito além do abastecimento e troca de óleo, sua função. Conseguia fazer reparos em veículos, casas, eletrodomésticos... Ele não conseguia era ver algo quebrado ou mal arrumado, logo colocava suas habilidades em ação, e com isso ajudou muitas pessoas com o seu dom e proatividade. Com a esposa, construiu a casa com as próprias mãos.

Certa vez, salvou um cachorro que estava preso em um bueiro antes da chegada dos bombeiros. Dermival sempre contou essa história com orgulho, já que além de salvar a vida do animalzinho, ganhou parabéns da corporação.

A filha Regiane conta que o pai comprou um Fiat 147, com vidros elétricos, o que deixou ela e os irmãos encantados. Para desfrutar do carrão, saíram com o pai para buscar laranjas em um sítio. De repente, uma roda de automóvel passou por eles. Deram por si que era parte do carro deles minutos depois. Felizmente, o pai conseguia arrumar tudo. Assim, seguiram viagem e nunca mais se esqueceram dessa passagem.

"Esse episódio deveria ser tatuado em minha pele, para todo mundo conhecer. Eu sempre vou me lembrar com riqueza de detalhes", conta.

Era apaixonado pelo casal de netos, Maria Gabriela e Heitor. Todos os dias, ele passava na casa de Regiane. Heitor tinha a sorte de morar nos fundos da casa desse avô babão, estavam sempre juntos. A duplinha se escondia atrás de um sofá sempre que Dermival chegava para o almoço. Encontrá-los era como uma senha, um desafio, para ele ser liberado para a refeição.

Dermival também tinha uma brincadeira típica com o cão, Marley. O pet sempre urinava na roda do carro dele. Quando isso acontecia, ele dava um "carreirão" no cachorro. Até hoje o bichinho espera por ele quando faz xixi na roda.

Como dizem no Sul, Dermival era muito "sarrista". Ou seja, tirava sarro de tudo e todos. Por isso, conquistava fácil quem estava a sua volta. "Até no hospital os médicos se apegaram a ele", afirma Regiane.

Apesar de brincalhão, ele era muito sério com o que exigia retidão. Fazia questão de andar com tudo certinho, não devia a ninguém. "Aprendi a ser honesta com ele", diz a filha.

Dermival segue vivo em cada história relembrada e no amor que a família nutre por ele. Jamais partirá dos corações de quem o amava.

Dermival nasceu em Jacobina (BA) e faleceu em Paranavaí (PR), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Dermival, Regiane dos Santos Maia. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 11 de abril de 2022.