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Edigar Alves dos Santos

1958 - 2020

Tinha a mania de pedir para caçar caspa na cabeça, só que na verdade ele queria mesmo um cafuné.

Seu Edigar, também conhecido como Julião pelos irmãos, foi um motorista dedicado, mas já aposentado há muitos anos.

De manhã, gostava de tomar café puro. Aos domingos, assistia os jogos do seu time de coração, o Flamengo.

Era cristão, tinha fé na vida, em Deus e nos Seus princípios.

Era bem-humorado: colocava apelidos nas pessoas, fazia piada e pegava os panos de prato da esposa Espedita para limpar o carro.

Gostava de assistir filmes de faroeste, tomar café com os amigos e plantar mudas no fundo do quintal. A última árvore a ser plantada no seu quintal foi um pé de caqui, trabalho feito pela sua filha Núbia.

Amava suas filhas e dizia que eram as maiores preciosidades de sua vida.

Ao falar de momentos especiais com o pai, Núbia relembra: "No meu aniversário de 15 anos, ele me levou até um salão pra me arrumar. Na hora que foi me buscar, o carro não queria ligar mais. Painho ficou bravo e tentou de todo jeito consertar porque tava todo mundo esperando. E ele conseguiu! Fez minha noite de princesa ser perfeita, assim como ele fez durante os 22 anos que compartilhamos juntos."

Foi com sua filha Núbia que teve uma de suas últimas conversas. O assunto era sonhos, e ele disse que era um homem feliz, pois tinha realizado o sonho da casa e do carro próprios, formou uma família, todos estavam encaminhados na vida e não precisavam de mais nada. Porém, alguns sonhos ainda persistiam, como ver todos os filhos de volta na igreja com ele e ver a casa de sua esposa finalizada.

Edigar nasceu em Montanha (ES) e faleceu em Serra (ES), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Edigar, Núbia Alves. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Alexandre Ramos Costa, revisado por Paula Ledo dos Santos e moderado por Rayane Urani em 26 de abril de 2021.