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Elaine Cristina Bonilha Zoadelli

1969 - 2021

Guardava a data de aniversário de todos os familiares e sempre os presenteava neste dias especiais.

Durante a infância Elaine cuidava muito bem de suas bonecas, como se fossem reais. Uma delas, chamada de Mãezinha, era muito especial e se tornou sua verdadeira relíquia. A paixão pelas bonecas era tão intensa que chegava a brigar com a irmã mais nova quando ela as pegava e cortava os cabelos. Certa vez, Elaine ficou extremamente brava, ao encontrar depois da aula uma de suas lindas bonecas toda quebrada e remendada com fita adesiva.

Elaine Cristina cresceu ao lado dos irmão: Cláudio, cinco anos mais velho que ela, e de Márcia, a caçulinha, que era seis anos mais nova. Os três irmãos se davam muito bem, Cláudio, inclusive foi quem levou Elaine ao altar no dia do seu casamento.

Desde sempre o relacionamento entre as irmãs foi de proximidade, unidade e muito amor. Elas brincavam o tempo todo enquanto a mãe, Júlia, costurava. Não importava a brincadeira, o importante eram estar juntas e se divertirem. As meninas brincavam na rua pulando amarelinha, jogando saquinho de tecido recheado de arroz, pulavam elástico e rebolavam com o bambolê! E, as vezes, se juntavam com outras crianças para montar coreografias para as músicas de Michael Jackson no salão que ficava em frente a residência da família. Com certeza, as irmãs sempre estavam no meio fazendo bailes e dançando com as vassouras.

Elaine e Márcia dividiam entre si o apelido de Olga, divertiam-se com a personagem de um programa de televisão que, uma vez falava de forma melódica como se estivesse cantando. Um jeitinho de falar que relembrava a tia das meninas. Fora esse apelido, Elaine tinha vários outros: "Amor" para o esposo, “Gordinha” para o filho mais novo e, para sobrinho e afilhado Gabriel, era "Tia Laininha" que vivia declarando o seu amor por ele.

Márcia, se refere à amada irmã dizendo: “Nunca conheci uma pessoa que guardasse datas de aniversários de todas as pessoas da família como ela. E gostava de presentear. Não há um lugar na casa ou nas casas dos familiares que deixamos de lembrar dela pois, Natais, aniversários, Páscoa e viagens que fazia, todo mudo sempre ganhava nem que fosse um chaveirinho”.

Enquanto estudava no magistério, conheceu seu esposo, Renato que trabalhava em um escritório de advocacia de seu tio, próximo à escola onde Elaine estudava. Quando começaram a namorar Renato tinha 17 e ela 18 anos, casaram aos 21 e 22 anos e logo nasceu o primeiro filho do casal, Fellipe. Com a chegada do primogênito, Elaine interrompeu os estudos e o trabalho para dedicar-se totalmente à criação do filho, e só voltou à carreira quando os filhos chegaram a adolescência. E assim como era na infância, defendia a família como uma leoa! Foi um exemplo de mãe superprotetora, atenciosa, carinhosa e abnegada. Cuidados que se estendiam ao segundo filho, Rodrigo. Seus talentos iam além, era cozinheira de mão cheia, sempre preparava receitas deliciosas para a família, uma forma de demonstrar amor.

Gostava também de shows, peças de teatro. Na verdade, o que gostava mesmo era de passear. Com os filhos, ia para stand-ups. Também apreciava bons filmes e até comprava DVD para assisti-los, bem à moda antiga e os filmes da Disney eram seus preferidos. Tinha bonecas das princesas, e já chegou a ganhar três de Márcia, sua irmã mais nova.

O marido e os filhos eram o seu xodó, faziam tudo por ela, e ela tudo por eles! Eram muito unidos, Fellipe tinha uma mania de acumular coisas propositalmente em cima de Elaine enquanto ela estava deitada no sofá. Depois de montar sua pilhagem tirava uma foto e mandava para a tia Márcia ver e dar risada da peça. Para ele é difícil traduzir em palavras o que a mãe representava, mas carrega consigo a certeza de que ela era uma pessoa exageradamente boa de coração, de generosidade e de cuidados que a tornaram a melhor mãe do mundo.

Aos olhos do filho, Elaine Cristina era uma pessoa forte pois, precisou lidar com a perda do pai aos 13 anos, fato que provocou uma ferida gigante no coração dela. Mas, apesar disso, ela nunca desistiu de lutar e se dedicou integralmente aos filhos e investiu no estudo dos mesmos com todos seus talentos: fazia trufas, dava aulas particulares, fazia artesanato e até mesmo recorreu aos vizinhos quando foi necessário. “Enquanto meu pai dava o melhor dele, minha mãe corria nos bastidores pra resolver tudo e manter a família em harmonia, como se fosse um maestro coordenando sua orquestra... Depois dos filhos crescidos, voltou para o mercado de trabalho, pois precisávamos de ajuda financeira, enquanto eu estudava em uma escola de primeira”, lembra o filho Fellipe.

Recorda também de grandes momentos vividos por ela: “...Um dos dias que vi minha mãe mais feliz foi quando ela passou no concurso público da prefeitura para fazer o que ela mais amava, ser professora. Que dia mais feliz! Outro dia, foi quando realizou o sonho do seu pai e se formou na faculdade depois dos 40! Ali ela conseguiu ficar em paz com seu pai e deu muito orgulho a ele”. Ela era uma pessoa de luz com o coração bondoso, fazia o que estivesse além de seu alcance para ajudar as pessoas. Gostava de comprar cosméticos que as amigas vendiam para ajudá-las e chegava até estocar alguns produtos, unicamente com a intenção de ajudá-las.

Elaine Cristina era professora formada no colegial técnico em magistério, fez estágio e começou a trabalhar em escolas voltada a educação infantil onde era muito querida pelas crianças e por suas mamães. Muitas crianças aprenderam com essa professora extraordinária! Dedicada e apaixonada falava de seus alunos em casa, eram tantas histórias que seus familiares já sabiam, praticamente, o nome de todos seus alunos!

Foi aprovada em um concurso que possibilitou a realização do sonho de sua mocidade: formar-se pedagoga. A família acompanhou sua carreira universitária e esteve presente em sua formatura. Elaine recebeu o diploma com os filhos e o esposo ao lado percorrendo um caminho não tradicional: primeiro formou sua família e depois se dedicou à sua formação profissional e fez tudo brilhantemente!

Era uma mulher alegre, faladeira e que amava conversar! Se visse alguém parado olhando um produto em alguma loja, parava ao lado e dizia: “Leva! Esse produto é ótimo.”, e então convencia a pessoa a levar. Tinha crises de riso em lugares que a risada não era bem-vinda!

Apaixonada por viagens, sempre planejava roteiros com seu esposo. Qualquer lugar poderia ser o destino do casal, para eles o importante era estar viajando e poder conhecer um pouco do mundo. Em suas bodas de prata foram para Itália, a primeira viagem internacional dos apaixonados. Tinham planos de, quando idosos, morarem em Portugal.

Márcia, também homenageia a mãe, Júlia. Muito emocionada relembra como as três eram unidas e quanto fazem falta. Elaine e Júlia serão eternamente lembradas por todos da família, do bairro que moravam e amigos.

Elaine nasceu em Santos/ (SP) e faleceu em São Bernardo do Campo (SP), aos 51 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã, pela cunhada e pelo filho de Elaine, Márcia Cristina Bonilha, Nivea Cristina de Paula Zoadelli e Fellipe Bonilha Zoadelli. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Vera Dias, revisado por Claiane Lamperth e moderado por Rayane Urani em 31 de março de 2022.