1933 - 2020
Viveu alegremente: amou, viajou e soube aproveitar cada momento pelo simples fato de estar viva.
"Leu". Assim Eleusina era conhecida. "Leu" lutou muito durante a vida. Lutou para nascer e para viver. Lutou contra enfermidades que a acometeram durante seu tempo nesse mundo.
E suas lutas nunca estiveram restritas ao campo pessoal. Ela lutava também pelo bem coletivo. Fez oposição à ditadura e às desigualdades de toda ordem, militando por justiça social. "Era uma militante", lembra com orgulho seu neto Alexandre. Mulher justa e solidária, se empenhava para que os mais vulneráveis pudessem viver com dignidade.
Alexandre diz que a avó, Eleusina, "era uma mulher à frente de seu tempo". E é claro, lançou tendências de moda na Bahia. Encurtou a saia e vestiu bermudas, figurinos que combinavam mais com a terra quente de todos os santos. E ainda mais com ela, que estava sempre se ocupando de fazer o que mais gostava: viajar.
"Leu" visitou muitos cantos desse mundo. No Brasil, conheceu todas as capitais. Presenciou acontecimentos históricos como a construção de Brasília e o suicídio de Getúlio Vargas. Tinha amigos importantes na música e na literatura. No caso de João Ubaldo Ribeiro, era amiga — e das mais íntimas —, dela e de sua mãe. Conheceu Jorge Amado e Dorival Caymmi. Era apaixonada por Caetano Veloso, que para ela era o "homem mais bonito do Brasil".
Cultivava amor por coisas delicadas, como as "rosas meninas" sob a janela. E também fazia sua arte com os bordados de "ponto cruz". Mulher cheia de vida, gostava de festas e sabia que celebrar era preciso.
Tinha respeito pelo passado e guardava um pouco da história das gerações familiares numa cristaleira, a qual fazia questão de exibir a quem visitasse sua casa. Foi professora dedicada, formada pela magistratura na década de 50. Sabia o valor da educação para as pessoas e para o país.
"Gostava de contar sobre suas viagens pelo interior da Bahia, depois que se tornou inspetora de educação pelo estado", lembra o neto Alexandre. "Minha avó ainda tinha sonhos: voltar a viajar o mundo, me ver formado, com família constituída e dando a ela seus bisnetos.
Partiu muito grata por ter conseguido realizar muitos de seus sonhos nesse mundo", conclui Alexandre sobre sua — para sempre amada —, avó Eleusina.
Eleusina nasceu em Maragogipe (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 87 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo neto de Eleusina, Alexandre Ramos Costa. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Cristina Marcondes, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de outubro de 2020.