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Eli Ferreira Rocha

1969 - 2020

O sorriso, os olhos e o abraço que eram um porto seguro para a filha.

Eli era um técnico de enfermagem com mãos de anjo, que estava sempre pronto amar e ajudar o próximo. Era também um grande pai e seu amor era profundo e incondicional pela filha Elis.

Saudosa, a filha relembra: “Eu sempre esperava por ele no portão, às 17h30. Aguardava ansiosa sua chegada para receber um abraço. Pedia uma comidinha e ele fazia. Fazia cada receita! A última foi uma pizza com borda de alho com queijo que, sem sombra de dúvida, só ele poderia fazer.”

A cada gesto dedicado, Eli demonstrava a gratidão e o amor que nutria por ela. Elis recorda ainda que sempre pedia a ele para sair em "triozinho", referindo-se ao trio formado por ela, a irmã e o pai. "Era um amor enorme que nos invadia quando estávamos os três juntos", diz.

A felicidade e o amor tornaram-se visíveis quando Eli ganhou, dias antes do seu aniversário, a amada netinha, que passou a ser o seu grande amor.

Com muito carinho, Elis recorda outros episódios vividos ao lado do pai: "Os dias de descanso em que ficávamos deitados na cama apreciando um bolo de chocolate e jogando videogame; as voltas para Ferraz de Vasconcelos, escutando nossa dupla britânica preferida ─ os Pet Shop Boys ─, e errando as letras; porque tentamos ficar craques no inglês, mas nunca conseguimos, e isso sempre promovia momentos divertidos e de muitas risadas."

Foram tantos momentos alegres que Elis relata que viveu ao lado do pai: As idas ao shopping para saborearem aquele delicioso e maravilhoso “Whopper” e reclamarem das batatinhas "rechonchudas"; as compras de tênis novos para saírem juntos "todos paquitões!" (como diriam eles); as caminhadas pelo parque para ficarem em boa forma e assim impressionarem “as novinhas e os novinhos”; os cabelos e as sobrancelhas feitas para ficarem lindos e bem-vestidos; os apelidos e as brincadeiras que faziam juntos "meu gatinho dos olhos verdes" (como ela chamava o pai); aqueles bolos recheados e aqueles pãezinhos quentinhos feitos para o café da tarde antes de ir para um plantão; o pós-plantão quando iam juntos descansar; aqueles beijos na testa; os inesquecíveis dias na piscina; as frases sobre a vida; as palavras sobre Deus; os momentos de reflexão... São momentos tão fortes e tão marcantes para sua amada filha, que as grandes recordações ficarão guardadas eternamente em seu coração.

"A minha última lembrança é você ao celular, escorado no carro e falando comigo: 'Desce aqui, tenho um bolinho de laranja gostoso para te oferecer'. E eu não queria saber de mais nada, apenas de você. Desci correndo para te dar um abraço e passarmos aquela tarde juntinhos, um escutando o coração do outro e nos aquecendo com tantas palavras boas. Era muita gratidão ter você ao meu lado", declara-se a filha ao pai.

"Eu só queria voltar ao passado e ter aproveitado ainda mais. E ter feito tudo diferente. Sinto tanta falta! Daria de tudo por mais um abraço gostoso com aquele cheirinho de Malbec e aquele perfume gostoso, quando eu sempre falava: 'Para quê estar tão cheiroso assim, meu bem?', relata a filha que ouviu, em uma videochamada, as seguintes palavras do pai: 'Filha para de chorar, papai vai sair daqui e vai fazer uma pizza bem gostosa pra você!' E eu acreditei", lembra, saudosamente a filha.

Mas os planos celestiais foram outros e Eli hoje é um grande anjo que será sempre lembrado pelo amor que transbordava em cada olhar e em cada gesto.

Elis deixa lindas palavras para seu pai:

“Você se foi, mas agora é o dobro do meu coração. Você é o pai que toda garota sonha em ter, você foi o técnico de enfermagem das mãos de anjo pelas quais todo ser humano queria ser salvo. Você era e sempre será o Eli Ferreira Rocha, o melhor pai do mundo e o herói que sempre salvou e que agora virou o meu anjo. Com certeza você foi e sempre será o homem mais importante de toda a minha vida. Te amo por toda a eternidade. Gratidão por passar pela minha vida e deixar marcas de ser o melhor pai que alguém pode ter.”

E, em forma de canção, finaliza este tributo fazendo mais uma de suas homenagens ao pai:

"Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
Eu peço somente
O que eu puder dar"

(Trecho da música "Porque Eu Sei Que É Amor", de Paulo Miklos e Sergio Affonso - Titãs)

Eli nasceu em Itaquaquecetuba (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 50 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Eli, Elis da Costa Rocha. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Thalita Ferreira Campos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de dezembro de 2020.