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Eliana Aparecida Bischel Paiva

1973 - 2021

Caminhava pelas ruas de Alvilândia acompanhada de vários cachorros, sempre de filtro solar, batom e perfume.

O instinto materno sempre fez parte da personalidade de Eliana. Mesmo bem nova já sentia que tinha "amor de mãe" pelos irmãos. Aprendeu a amar assim com a avó materna, a quem ela era muito apegada.

A maternidade chegou cedo para ela, com 19 anos. E junto com a primeira filha nasceu uma mãe e mulher "leoa, protetora, forte", como descreve a filha Andressa.

O namoro com Djair, o pai de seus filhos, começou quando ela tinha por volta de 17 anos e os dois nunca mais se desgrudaram. Ela até reclamava dele, mas ai de quem fizesse o mesmo. "Assim como ela sempre nos defendeu, ela também defendia o meu pai. Com unhas e dentes", diz a filha.

Acompanhando o marido, no começo do casamento, Eliana morou em uma fazenda e trabalhou na roça para ajudar a trazer o sustento da família. Com o passar do tempo, realizou diversas outras atividades, sempre pensando na vida melhor que poderia dar aos filhos. Trabalhou como babá, empregada doméstica, cuidadora de idosos, conselheira tutelar e auxiliar de pessoas com deficiência intelectual. Apesar de sempre estar pronta para qualquer ofício, ela gostava mesmo era de vender. "Ela vendia de tudo: comida, cosmético, roupa. Tudo para manter a casa", lembra a filha.

Esse jeito cuidadora não se restringia à família. Bem sabe a cachorrada de Alvilândia. "Uma marca da minha mãe, na cidade, é que ela sempre estava acompanhada de vários cachorros." O Marvin pôde conhecer esse afeto mais de perto. Foi seu cachorro-amigo até o fim. Um salsichinha marrom resgatado da rua e que, depois de ter sido adotado, vivia seguindo os passos de Eliana feito uma sombra. O elo entre eles era tão forte que hoje, mesmo depois da partida de Eliana, ele segue esperando por ela nos portões das casas por onde ela sempre passava.

Eliana sempre tinha tempo para uma visitinha a um parente ou um amigo. "Minha mãe adorava bater perna e fazia um via sacra, indo de casa em casa de conhecido para saber como estavam e conversar." Seu melhor amigo, Ivan, estava sempre com ela. Assim como outras amigas com quem caminhava junto e já aproveitava para fazer uns exercícios.

Quem estava pelas ruas não podia negar a presença de Eliana. Sempre de batom e perfume. Ah, e de filtro solar! Ela não saía sem, lembra com humor a filha. Era um item importante no seu estilo de vida saudável. Muitas amizades, caminhadas, filtro solar, alimentação repleta de frutas, legumes e verduras.

Depois de bater tanta perna, era deitar na cama e já dormia. Ligava a televisão só para fazer um barulho, porque nem dava tempo de assistir a nada. Diferente das corujas – animal que ela amava – ela tinha noites de sono de dar inveja!

Das noites bem dormidas e das caminhadas diárias, tudo será lembrado. Seu sorriso constante, seguido de um carinho, de um ato de cuidado ficará na memória de cada pessoa que passou em sua vida e ela amou.

Eliana nasceu em Alvinlândia (SP) e faleceu em Marília (SP), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Eliana, Andressa Paiva de Maria. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Michele Bravos, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 12 de abril de 2022.