1971 - 2021
O sol na vida da família, que tinha o grande sonho de ter uma casa amarela em Guararema.
Bete foi uma das pessoas mais alegres que a sobrinha Milena já conheceu.
"Ela era o sol que iluminava toda a Vila Clara", diz ela.
Bete foi mãe, esposa, avó, e, principalmente, tia. TIA BETE, assim em maiúsculas. Tinha muitos sobrinhos, não só os de sangue, como os de consideração. Sua única regra era: "Na casa da tia Bete pode tudo!"
Estava sempre disposta a ajudar qualquer um que precisasse. Não era preciso pedir duas vezes.
Era a melhor cozinheira. A tia preferida. A alegria da festa. Seu maior prazer era ver os outros felizes e fazia o possível e o impossível para agradar a todos. Tinha um talento especial para dar conselhos. Adorava ler.
Era amada por todos. E olha que a família é grande. Tão grande e "embolada", como diz Milena, que "até primo de terceiro grau é próximo". "Não havia uma única pessoa que não gostasse dela, sério, nunca conheci", garante a sobrinha.
Bete estabelecia relações amorosas e de carinho até com quem não era parente próximo. "Ela era muito ligada à família, não de um jeito clichê e convencional, mas de um modo bem verdadeiro, puro e, principalmente, alegre, cheio de piadas e brincadeiras", relembra ela.
Sua mania era o refrigerante mais popular do mundo e seu prato predileto era um bom bife de fígado acebolado acompanhado por torresmos.
Uma das histórias mais engraçadas envolvendo Bete é sempre repetida na família. Ela, que sempre morou na capital paulista, foi visitar, durante a quaresma, uma pequena parte da família que mora no interior de Minas Gerais. A cidade, durante esse período, tem vários rituais e simpatias comuns à população. Um dia, passeando pelo centro histórico, Bete achou algumas cervejas fechadas junto de um monumento conhecido como "Soldado da Boca Aberta". Nem pensou duas vezes. Bete e uma prima pegaram as cervejas e beberam em casa, o que deixou a família mineira horrorizada. Então explicaram que aquilo, na verdade, era um despacho de quaresma e que não era permitido mexer. "Por muito tempo, ela foi alvo de zoações pelo fato de ter pegado, sem querer, essas cervejas de despacho", diverte-se Milena.
Outra vez, em um casamento da família, Bete foi com um vestido amarelo. "Mas um amarelo gema de ovo mesmo", ri Milena. "Brincamos que ela era o sol da festa. E no dia em que ela morreu, eu só me lembrava disso, que ela era de verdade um sol, era a luz no dia de alguém e iluminava nossa família toda. Nenhuma lâmpada, por mais brilhante que seja, nunca vai acabar com o escuro que ela deixou", conclui a sobrinha.
Elisabete nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 50 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha de Elisabete, Millena Beatriz Rodrigues Félix. Este tributo foi apurado por , editado por Ticiana Werneck, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 2 de maio de 2021.