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Elisabete dos Santos Budel

1953 - 2021

Ao final de todos os anos, ela se organizava para visitar e levar guloseimas aos doentes acamados.

“Tia Bete”, assim Elisabete dos Santos Budel era conhecida por mais de quarenta anos entre a família, os amigos e vizinhos. Muito apegada a seus 14 irmãos, com os quais tinha uma relação próxima e forte, era tia oficial de muitos e muitos sobrinhos ‘verdadeiros’, mas se tornou tia também dos amigos dos sobrinhos. E, quando esses cresceram e tiveram seus filhos, ela também era a “Tia Bete” da nova geração.

Ativa em sua comunidade, Bete trabalhou muitas vezes nas diretorias da escola, na Igreja, no Clube e no Clube de Mães, onde organizava eventos beneficentes. No Natal, era responsável pelo "Natal das Crianças"; reunia todas as que moravam na vizinhança para receberem uma cestinha de doces e assistirem à chegada o Papai Noel. Levava doce aos doentes acamados em hospitais. Nas festas, participava ativamente do preparo dos almoços e doava tortas para serem vendidas.

Bete sempre gostou de cozinhar e fazer doces. Ela cozinhou para a família desde cedo, mas também para outras pessoas. Trabalhava fazendo e vendendo tortas; sua agenda estava sempre cheia de encomendas. “Minha mãe fazia comida como uma forma de cuidar do outro. A mesa era farta para as visitas e também para a família”, lembra Fabiane Budel. Os pratos preferidos do marido e dos filhos eram galinhada e sopa de feijão, mas aos domingos não faltava também o pastel do lanche da tarde, recheado com o que cada um gostava mais: carne, carne com ovos, queijo, frango, frango com queijo... Ela já fazia de um jeito para sobrar, e cada um levar uma marmitinha para casa.

Conforme os netos foram chegando, primeiro Valentina, do filho mais velho, Douglas; e depois Théo, filho de Fabiane, Bete sempre chegava na casa deles pronta: com a caixa de isopor cheia de comidas, carnes para preparar, pães, massas de pastel, macarrão artesanal (que ela mesma fazia), molho de frango congelado, feijão cozido e lasanha. Enchia a geladeira e ficava feliz. Nas festas, como Natal e aniversários, sempre colaborava com lasanhas tamanho família e sobremesas deliciosas. Era conhecida pelas porções exageradas.

Em 2021, ela já estava se preparando para dar suporte à Fabiane, grávida do seu segundo filho, e a ajudar Théo a se acostumar com a novidade de um irmãozinho. Ela se dedicava muito aos netos e, seguidamente, começava suas frases assim: "Não é porque é meu neto, não, mas... " e já iniciava algum elogio sobre alguma coisa. “Théo tem ideias mirabolantes de como poderia ir ver a vovó ou buscá-la do céu. Porque ela era tão presente que parece que ainda está entre nós”, rememora Fabiane.

Bete foi casada com Fábio, seu companheiro de vida, por 47 anos. Eles gostavam muito de fazer visitas, de receber amigos em casa, de sair para passear ou dançar nas reuniões dançantes da terceira idade. Ela vivia com o rádio ou a televisão ligados, e amava cantar. Assim que soube da chegada do Augusto, estava sempre cantando, feliz, "tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais", fragmento da música de Alceu Valença. Mas suas músicas preferidas mesmo eram os chamamés, estilo típico do Rio Grande do Sul. Em casa, passavam muito tempo escutando essas músicas, tomavam chimarrão à tardinha, jogavam baralho à noite... Era uma casa alegre, cheia de gente, movimento e vida. E uma parte importante: tinha sempre um aroma de comida boa no ar.

Elisabete nasceu em São Luiz Gonzaga (RS) e faleceu em Santa Maria (RS), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Elisabete, Fabiane Budel. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Luciane Crippa Kobayashi, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 18 de outubro de 2021.