1927 - 2020
Só assinava documentos importantes com as unhas feitas, e jamais saía de casa sem brincos e batom.
Uma bela mulher, que encontrou no marido Nélson um companheiro, com quem formou uma linda e grande família. Quando jovem, Elloah formou-se no curso de assistente social; após o casamento, dedicou-se exclusivamente à sua amada família.
Mãe amorosa, seguiu incansável no cuidado dos filhos Marília, Rosaura, Jorge, Denise e Simone, após ter ficado viúva, em 1994.
É a caçula Simone que conta: "Meus irmãos têm diferença de dois anos entre si, mas da última pra mim foram oito anos de diferença. Todos se casaram cedo, e eu fiquei em casa mais tempo com a mãe e a Rosaura, que tinha problemas de saúde. Aos 19 anos, minha irmã foi diagnosticada com esclerose múltipla. Eu tinha, então, 8 anos, e já cresci vendo-a lidar com dificuldades para caminhar. A mãe era extremamente zelosa com Rosaura, muitas vezes até abnegando de suas próprias necessidades para cuidar da minha irmã."
Dona Elloah tinha origem japonesa, e seu esposo, italiana. Ela cozinhava muito bem, rendendo-se às delícias da cozinha italiana, que predominavam na mesa da família, tudo muito bem preparado com seu delicioso tempero. Desde pequena, Simone lembra da mãe fazendo rissole e todos os tipos de salgadinhos, além das deliciosas tortas frias. Gostava também de fazer massas, como canelone, e doces: docinho de banana, um doce com amendoim e uns que sempre fazia para o Natal, como menciona Simone: "chamavam-se montanha russa e doce cor-de-rosa".
Era uma grande festa reunir a família, com os filhos, onze netas — todas mulheres, mais seis bisnetos — três meninas e três meninos. Sempre alegre, Dona Elloah não sabia o que era mau-humor. A filha traduz a alma da querida mãe: "não tinha tempo ruim, era um espírito elevado, a mãezinha. Ela nunca reclamou de nada, sempre estava tudo bem para ela. Às vezes eu pedia desculpa por não ter dado tempo de ir à sua casa. Ela respondia: 'não tem problema, minha filha, tu sabes que eu estou bem e qualquer coisa sei que posso contar com você'. Ah mãe, sinto tanto sua falta."
Passava os dias envolvida com os afazeres da casa, fosse arrumando, costurando, fazendo crochê ou bordado. Ela costumava dizer que não gostava de ficar com as mãos paradas. Muito habilidosa, fez curso de boneca e, desde nova, começou a reformar suas roupas, aprendendo sozinha a costurar.
"Lembro de roupas que minha mãe costurava pra mim quando eu era criança, e ela chegou também a fazer os trajes para o casamento de uma das minhas irmãs. A mãe adorava sentar ao fim do dia pra ver 'uma novelinha' e fazer seu crochê. Fez muitos blusões e toalhas para a família", conta Simone.
Muito apegada a Dona Elloah, a caçula conta que procurava fazer de tudo para ver a mãe feliz. "Organizei uma grande festa nos aniversários de 80 e 90 anos: foi em um hotel, com toda a família presente, com direito a fotos tiradas num estúdio e um CD feito especialmente para ela dar de lembrança."
A matriarca também gostava muito de passear, principalmente sair para almoçar, e os filhos faziam sua vontade com muito gosto. Sempre que podia, Simone organizava alguma viagem com Dona Elloah para alegrá-la, como para Gravatal e Águas Termais. Uma recordação linda foi a viagem de navio, que a filha organizou com grande parte da família. "Ela adorou!", diz Simone, complementando: "tínhamos uma casa de veraneio em Cidreira, a 140 km da capital, onde passávamos sempre as férias. De lá vêm as recordações dos melhores tempos de nossas vidas: minha bem vivida infância com meus irmãos, a mãe aproveitando a praia que tanto amava ou curtindo compras nas lojinhas locais. Aliás, ela adorava umas comprinhas e sempre tinha em mãos um mimo para nos oferecer. Como era carinhosa."
Era apaixonada pela dança, pelas músicas de Luiz Miguel e por boleros. A filha lembra que seu pai adorava tango e, apesar de a mãe não ter feito curso, dançava com o marido em casa. Simone comenta ainda que nas reuniões de família sempre a tirava para dançar. Já no residencial onde Dona Elloah era cuidada devido ao Alzheimer, havia um senhor que tocava teclado e outro que tirava as senhoras para dançar. "Minha mãe adorava", diz Simone.
Vaidosa, gostava de estar com as unhas arrumadinhas quando fosse assinar um documento no banco, tinha o hábito de se olhar no espelho antes de sair, não dispensando o batom e os brincos. Mesmo com Alzheimer, ela continuava se cuidando. "Minha amada mãezinha sempre foi muito bonita. Mesmo quando mais idosa, ainda chamava a atenção por sua beleza. Nós levávamos na bolsa um brinco ou alguma coisa, caso ela esquecesse. Tem uma história que ela contava de sua infância: certa vez ela saía com sua mãe e disse 'mãe, esqueci o colau'. E fazia a mãe voltar em casa para botar o colar. Ou então voltava para por brincos."
Dona Elloah, apesar de a vida toda ter se mantido magra, era uma verdadeira formiguinha, que só de ouvir falar em doces, seus olhinhos brilhavam. Será por isso que ela era tão doce com todos à sua volta?
Simone perguntou à irmã pelos defeitos da mãe e a resposta foi: "não tinha". Deduziram que talvez fosse gostar muito de doce ou se doar tanto para a família, pois acabava por não pensar em si mesma. "Enfim, essa era a mãe: incansável na distribuição de amor aos filhos, cheia de luz e vida, uma pessoa boa e abençoada, que sempre foi um elo muito forte em nossas vidas. Deixa uma saudade imensa e carinho na memória dos que a conheceram", finaliza com imenso amor a caçula Simone.
Elloah nasceu em Porto Alegre (RS) e faleceu em Porto Alegre (RS), aos 92 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Elloah, Simone Nemoto Piccoli Hahn. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Denise Pereira, revisado por Renata dos Passos e moderado por Ana Macarini em 29 de maio de 2021.