1989 - 2020
Com um coração tão grande quanto ele, dedicou a vida para doar amor, generosidade e alegria.
Em sua curta jornada, Erinaldo viveu intensamente o que dizia a famosa canção de uma banda da qual ele gostava muito: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Sim, ele soube amar os que estavam diretamente ligados a ele ou não. De fato, um traço que sem dúvida marcou a existência de Erinaldo foi a extensão de sua generosidade e compaixão.
Mas ao longo dessas exatas três décadas que ele desfrutou entre aqueles que amava e admirava, a parte mais significativa e graciosa que deixou, foi uma família construída e cultivada com um amor singular. Foi com Lívia Pinheiro que Erinaldo compartilhou desde 2009, quando se conheceram, as dores e delícias de deixar ser levado por um sentimento tão intenso quanto o amor. E deu tão certo, que o Pedro Henrique — fruto dessa união de tanta parceria — é hoje e, eternamente será, o reflexo do amor de Lívia e Erinaldo.
Erinaldo partiu oito dias antes de Pedro completar dois anos, mas apesar de ter tido a oportunidade de conviver tão pouco com o filho, fez valer cada segundo. A começar pela chegada do filho ao mundo, Pedro Henrique sempre irá levar consigo o orgulho de ter tido um pai que enfrentou o medo de acompanhar o momento tão delicado do nascimento. Pôs de lado a sensibilidade e apreensão, acompanhando Lívia em todo o processo de parto e permanecendo com ela em todos os dias de internação.
Os dias que se seguiram foram os mais risonhos e agitados da vida dessa nova família que nascia, Erinaldo não perdia tempo em acompanhar a energia do filho. Chegando em casa depois de um dia de trabalho, era certo que pai e filho fariam aquela farra antes de dormir — a casa parecia que virava uma balada. Além das brincadeiras, também deixou de herança para o filho o contato com o alfabeto e os números, fez questão de ensinar ao filho, mesmo tão novo, algo tão essencial para a vida.
“Melhor pai impossível! Eles tinham uma conexão muito grande, fazia questão de botar para dormir no colo e era muito carinhoso. Gostava de fazê-lo, não era por obrigação. Se pensasse em fazer algo como casal, esperava um pouco, mas para nosso filho era na hora”, recorda Lívia.
Por alguns, era chamado de “Bahia”, por conta de seu estado de origem; no trabalho era o “Grandão” — seu 1,96m de altura explica o apelido; entre as irmãs, Erinaldo era “Cagun”; e carinhoso como era com a companheira, para Lívia era “Bê”. Tantas formas de chamar esse homem único que foi conhecido pela sua calma, paciência, por ser dono de uma energia contagiante e a quem se podia recorrer para ouvir uma palavra positiva e um sorriso. O bom humor sempre presente e o respeito que prevaleceu em suas relações são ausências sentidas por todos que cruzaram o caminho dele.
Entre suas paixões estava a mãe, a quem chamava de "mainha"; também o prazer de andar perfumado e de cultivar a higiene. "Tomava 50 banhos por dia", brinca Lívia.
Suas muitas manias incluíram guardar um short que adquiriu desde o início do namoro, que levava para as viagens e usava em tudo que é lugar. Tinha também a mania de roer a unha e sempre tomar café puro e depois o café com leite — nessa ordem. Ah, e andar descalço não era com ele...
Na culinária, gostava de disputar com Lívia qual era melhor: o requeijão baiano ou o queijo coalho conterrâneo do Ceará, terra da esposa. Mas além das competições, quando tinha que se virar na cozinha, se saía muito bem e de vez em quando assumia o controle dos preparos.
Foi também amante da pesca, deixou uma porção de linhas e varas. A paixão pela pesca era tanta que levou o filho com menos de um mês de vida para conhecer um dos fascínios do pai. Tinha o sonho de fazer uma camiseta para a família ir pescar, todos combinando. Deixou para Pedro Henrique uma vara e um violão, para cultivar, na vida do filho, atividades que davam tanto prazer e sentido para ele.
Antes de partir deixou uma promessa de casamento em aberto, feita por Lívia, que enxergou na oficialização da união de tantos anos, um presente à recuperação da saúde de Erinaldo e um recomeço com a esperança de dias melhores para toda a família.
Após recobrar os sentidos, depois de um longo período em coma, o pedido de casamento foi feito pelos médicos e ele, claro, aceitou com um sorriso de orelha a orelha. Lívia, a noiva, começou então a organizar e renovar os espaços da casa para quando ele voltasse, mas um dia depois desse momento tão marcante, Erinaldo não resistiu e foi buscar sua morada em outro lugar.
Hoje, tornou-se a estrelinha que o filho aponta e chama todos os dias pela janela. O inesquecível homem, que foi a exceção em tudo na vida de sua primeira e única esposa; o filho, irmão, tio e amigo que, em cada peito em que habitou, deixou o que de melhor que a vida tem a oferecer: amor, respeito, união e felicidade.
Erinaldo nasceu em Brumado (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 30 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Erinaldo, Lívia Pinheiro Soares. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 25 de outubro de 2020.