1953 - 2020
Estherzinha dançava até onde os joelhos permitiam.
Adorava as festinhas em família, era sempre a primeira a se arrumar. Bastava tocar a música “Índia”, do rei Roberto Carlos, que os cabelos grandes e pretos de Dona Esther se sacudiam junto com os seus quadris. As lágrimas também rolavam em seu rosto ao se lembrar do pai cantando “Índia seus cabelos nos ombros caídos, negros como a noite que não tem luar”, especialmente, para ela. Quando jovem, ia até Parintins prestigiar o seu Boi Caprichoso.
Estherzinha transformava tudo em um grande passeio. Se ouvisse um “Mamãe vou ali”, rapidamente ela respondia: “eu também vou minha filha, me espera, peraí!”. E já pulava junto. Amava passear, seja para ir para o sítio, tomar um sorvete com os netos, ir para o interior comer um peixinho assado ou um bom pato no tucupi.
Dona Esther sempre foi presente na vida das quatro filhas — Viviane, Valéria, Vilma e Ana Paula — que tivera com o amor da sua vida, Hilário, que partiu em 2005. “Tenho três filhas que nasceram de mim e uma do meu coração. Foi mais um presente que Deus me deu”, era o que dona Esther respondia quando perguntavam pelas três filhas. A Ana Paula teve a sorte grande de encontrar o amor de mãe em dona Esther. “Ela ficava feliz com a nossa alegria, ela sentia a nossa dor. Ela possuía um coração enorme”, lembra a filha Ana.
Era uma mulher que sempre estava com o seu terço, em madeira, na mão. Estherzinha era católica assídua, devota de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e de Nossa Senhora Aparecida, tema do seu último aniversário. Orgulhava-se de, nos últimos anos, ter se formado para ser ministra da eucaristia. “O Senhor é Rei, o Senhor é meu Pastor e Rei”, cantarolava ela.
Sempre esteve envolvida em obras sociais. Servia sopas para os moradores de rua e, também, visitava os hospitais para dar a hóstia aos adoentados que não conseguiam ir à igreja.
Se você chegasse às 15h na casa dela, já ia sentir o cheiro do cafezinho na mesa, com uma tapioquinha, bananinha frita e bolo. E ela estaria sentadinha na cadeira de balanço, rezando o terço. Quando a reza fosse finalizada, podia correr para o abraço e passar a tarde conversando com ela. E tenha certeza, ela iria te servir.
A sua família e amigos não podem mais ser abraçados pelo melhor abraço do mundo e nem ver, fisicamente, aquele sorriso cativante com um dente de ouro.
Esther nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Esther, Ana Paula de Souza Nascimento. Este texto foi apurado e escrito por jornalista João Vitor Moura, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 30 de agosto de 2020.