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Faustina Olímpia de Moraes e Souza

1937 - 2020

Seus olhos cuidadosos transbordavam amor e paz.

Faustina tinha um olhar diferente para a vida. Mesmo diante das adversidades, sabia ser calma, paciente e amorosa.

Teve oito filhos, frutos de um casamento difícil, mas que jamais tirou dela a sua doçura. Perdeu um de seus filhos ainda bebê e mesmo sofrendo muito, nunca foi vista xingando ou brigando com alguém. Na verdade, ela era feita de bondade e ternura.

Viveu rodeada pelos filhos e teve na neta, Érica Cristina, uma grande companheira. "Minha avó, minha Princesa, era assim que eu gostava de chamá-la. Nos falávamos pelo olhar, existia muita sintonia", conta a neta, orgulhosa. As duas sempre foram próximas, portanto a infância foi marcada por boas memórias. Em uma delas se lembra de como a avó, extremamente cuidadosa, examinava a sua cabeça em busca de piolhos.

Nos últimos seis anos com o agravamento do quadro de Alzheimer, o elo entre elas se tornou ainda mais forte, e a vida permitiu que a neta, ao cuidar da avó, tivesse a oportunidade de tê-la bem pertinho. "Ela era meu ponto de paz, muito quietinha, porém muito amorosa. Me olhava com muito amor".

Faustina criou os filhos cuidando da casa e também fazendo coxinha para vender. Enquanto ela produzia, alguns dos filhos e o marido saíam para vender. Cuidou muito bem da família e segundo a neta, fazia a melhor comida do mundo, principalmente o bife e a batata frita.

Quando mais nova, constantemente falava com muito carinho dos pais e mesmo nos últimos anos, quando se tornou mais quietinha em decorrência de sua doença, nunca os esqueceu. Era parte da dinâmica entre ela e a avó que perguntasse qual o nome dos seus pais para que habitualmente respondesse com o nome completo deles.

"Tínhamos uma linda conexão mesmo. Nos falávamos em silêncio. Me ensinou muito, pois mesmo com Alzheimer, nunca esqueceu como demonstrar amor e carinho", diz a neta.

Acreditava muito em Deus. "Minha mãe lia a Bíblia para ela e uma coisa que nunca deixou de falar foi 'amém' depois das orações", relembra. "Que ser humano ímpar ela foi. Quanta doçura, bondade e brandura! Como eu gostaria de ser pelo menos um pouquinho do que ela foi!"

Com amor e saudade imensos, do tamanho da esperança de Érica Cristina no reencontro, ela se declara para a avó: "Te amo eternamente, minha Princesa!"

Faustina nasceu em Sorocaba (SP) e faleceu em Sorocaba (SP), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Faustina, Érica Cristina de Oliveira. Este tributo foi apurado por Ana Helena Alves Franco, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 31 de janeiro de 2022.