1975 - 2021
Radiante, ela amava rir, cozinhar, fotografar e alimentar, das mais diversas formas, quem estivesse ao seu redor.
Fernanda, Nanda, Fê ou Fefê, como era chamada pelos amigos, sempre foi destemida, visceral e autêntica — e ela não sabia ser de outra forma. Era apaixonada por seus sonhos e por suas convicções, que defendia com veemência, sempre com a "cara no sol", como ela costumava dizer, posicionando-se, defendendo o que acreditava e detestando injustiças.
Ela era uma presença marcante: quem a conhecesse dificilmente a esqueceria. Ela sabia ganhar o coração de todos em pouco tempo, com o seu jeito simples e risonho. Inquieta por natureza, dona de uma sensibilidade ímpar, sempre se expressou pela arte: desenhava, escrevia, fotografava e preparava iguarias como uma cozinheira de mão cheia!
Sua maior paixão era a fotografia. Ao longo da vida, registrou e eternizou cada um dos seus amores através de sua lente: sua família, seus amigos, sua cidade, as cidades que visitava; eram cores e poesia em imagens.
Cinéfila, gostava de assistir aos mais variados filmes, de diversos gêneros, e se amarrava em filmes com bons roteiros e bela fotografia. Na área musical, tinha um gosto eclético — começava num bom sambinha, passava pela MPB, pelo pop rock dos anos 80 e chegava até a música eletrônica —, o que a tornava a DJ das festas com os amigos.
Gostava de gargalhar até doer a barriga e zoeira era com ela mesmo. Sua risada e as expressões "e aí? e "porra, cara" eram seus cartões de visita. Carioca da gema, era apaixonada pelo "Rio 40 graus, Cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos".
Fefê era daquelas amigas com quem você podia contar para tudo, até para falar o que você não queria ouvir. A lealdade era a coisa mais importante para ela, que vivia cuidando de tudo e de todos, fosse por meio de uma mensagem, de uma chamada de atenção cheia de carinho ou até mesmo com uma comida — alimentava todos ao seu redor das mais diversas formas. Tinha amigos de anos, que são "família", e por todos guardava um carinho especial e genuíno, atrelado às memórias que gostava sempre de revisitar quando se reunia ou falava com eles.
Ela acreditava no amor como a força que movimenta o mundo e, embora sua vida não tenha sido muito fácil, ela nunca perdeu a pureza da sua alma nem a sua sensibilidade. Rosangela, sua companheira, relata em detalhes a história de amor que viveram: “Foi em 2009 que eu a conheci e em 2010 que meu caminho se juntou ao dela. Viajei 6 mil quilômetros desde minha terra natal, a Venezuela, para conhecê-la pessoalmente e em dezessete dias tive a completa convicção de que queria passar o resto da minha vida com essa pessoa extraordinária, sensível, inspiradora, autêntica, dona de um coração gigante”.
“Perdi as contas de quantos filmes assisti ao seu lado, e como ela despertou em mim esse olhar crítico pelos filmes que antes eu não tinha.”
“Amava viajar e, quando a gente viajava, eram turnês gastronômicas e fotográficas. Adorava fotografar os lugares aonde íamos e experimentar a comida local. Era viciada em pimenta e eu a acompanhava nas 'aventuras da pimenta arretada' (com lágrimas nos olhos, literalmente). As pimentas que ela fazia eram as melhores, assim como a feijoada, o bobó de camarão, as pastinhas de ricota e os brigadeiros, que chegou a vender...Ah! Os brigadeiros! Desculpa, gente, mas a Fernanda fazia o melhor brigadeiro do mundo todo! Que felicidade eu ter comido bastante!”
“Ela foi durante doze anos minha amiga, minha companheira, minha amante e minha esposa. Ela gostava de me olhar através da sua lente e assim construiu a melhor parte da minha história — a nossa história — e a deixou registrada para eu poder revisitá-la em cada captura feita através do seu filtro da cor do amor. Seu legado é sua arte e seu profundo amor, que é fértil, continua a dar frutos, para sempre e além, como escrevemos nas nossas alianças.”
Rosangela conclui seu tributo de amor dizendo: “Sinto-me grata de ter amado e sido amada por esta maravilhosa mulher, que existe em prosa e que não é de jeito nenhum só mais um número”.
Fernanda nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 44 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela companheira de Fernanda, Rosangela Salazar Armas. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 23 de agosto de 2022.