Sobre o Inumeráveis

Francisco Ramalho Palitot

1959 - 2020

O paizão que era amor e presença. Sonhava até com um prédio: para morar um filho em cada andar.

Sem dúvida, Dona Maria Palitot Ramalho, conhecida como Socorro, e Seu José Gival Ramalho criaram Francisco e seu irmão, Agamenon, com todo carinho. Felizmente, a relação era recíproca e Ramalho, como Francisco era chamado, tinha uma dedicação especial pelos pais também. Mesmo quando cansado, após um dia inteiro de trabalho, antes de voltar para a sua casa, ele fazia questão de dar uma passadinha na casa dos pais. O tipo de dedicação e carinho que ficam gravados na alma.

Esse jeito amoroso de ser estendeu-se ao criar sua própria família. Casou duas vezes e teve três filhos com Vânia e dois com Jacqueline. Flávio, Fernanda, Amanda, Victor e Natália eram seus maiores amores e preocupava-se em estar sempre presente e ajudá-los em tudo que pudesse. Fernanda, filha do primeiro casamento, conta que o pai, mesmo após novamente casado, nunca deixou de acompanhar todos os momentos importantes, preocupando-se, inclusive, com a saúde da ex-esposa.

“Não esqueço algumas passagens da infância, com meus pais já separados, mas ele sempre presente. Fazia questão de, aos finais de semana, passar as noites conosco. Eu e meus irmãos adorávamos brincar na rua com outras crianças e meu pai ficava na calçada nos observando... Só ia embora quando entrávamos. Uma noite, não queríamos entrar e combinamos todos de fingir ir pra casa e, quando ele saísse, voltaríamos pra rua. Deu tudo certinho! Até o momento de calcularmos sua saída, abrirmos a grade, o portão e... darmos de cara com ele nos encarando bem em frente ao portão! Pensa num desespero! Levamos uma baita bronca na hora, mas tempos depois, o fato virou uma história, que era repetida em muitos eventos de família e gerava sempre ótimas risadas”, relembra Fernanda.

Ramalho foi vendedor, gerente de vendas e auxiliar administrativo. Trabalhava em um escritório e tinha suas finanças sempre na ponta do lápis. Dedicado ao serviço e extremamente organizado, tudo seu era sempre anotado e não podia sair do planejamento. Responsabilidade e caráter eram suas características mais marcantes e ele sempre dizia: “meu nome é um bem precioso”, zelando pelo mesmo da melhor maneira.

Tinha um belo sonho: ganhar na loteria e comprar um prédio. Nele, colocaria para morar em cada andar um filho e os netos Nathan Gabriel e Maria Luiza, suas paixões. Assim, aquietaria seu coração, vendo a família toda por perto. A filha diz que essa sempre foi sua maior preocupação: “Meu pai era um homem de boa índole e sempre se preocupou com todos. Amava muito nossa família.”

Aos domingos, seu programa preferido era almoçar na casa dos pais e, à tarde, assistir ao jogo do Botafogo da Paraíba, no estádio Almeidão. Mas, sempre que podia, também era dia de um bom churrasco. E Ramalho era quem ficava responsável pela churrasqueira e pela farofa d'água. "Ficou famoso pela receita da farofa, prato típico da Paraíba, que apesar de simples, ninguém conseguia fazer uma igual à do especialista paizão", conta Fernanda.

E ela complementa lembrando que ele adorava descansar em uma rede, num sossego merecido. “Andava angustiado, pedindo que nos cuidássemos, mas foi ele que acabou nos deixando. Espero que possa encontrar uma linda rede em algum lugar de paz. Por enquanto, só muitas saudades deixadas aqui pelo meu maior conselheiro e, sem dúvida, meu grande exemplo.”

Francisco nasceu em Bonito de Santa Fé (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Francisco, Fernanda Duarte Ramalho. Este tributo foi apurado por Denise Pereira, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de novembro de 2020.