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Francisco Rômulo Barreto Ramos

1959 - 2021

Torcedor do Leão, era a melhor conversa nos intervalos da universidade.

Este tributo foi escrito por uma amiga e pelas irmãs, em homenagem ao querido Rômulo.

Da amiga Ana Virgínia:

Querido Rômulo,

Difícil acreditar que você morreu.

Não pude te visitar, não conheci tua família, não pude te enviar aqueles mimos e guloseimas que a gente manda pros amigos hospitalizados.

Não acompanhei tua piora, não vi teu corpo, não fui ao velório, não te enterrei, não vi no rosto da nossa galera a cara de pasmo e incredulidade.

Não choramos juntos por você, não teve minuto de silêncio, não suspendemos as aulas, não cantamos bêbados o hino do Fortaleza em sua homenagem, não fizemos uma faixa com seu nome, não levamos flores ao bosque.

Como é do meu estilo, eu me sentiria mal, e teriam que cuidar de mim. Não passei, não cuidaram.

Obrigada por tudo, viu Rômulo? Pelas vezes que esqueci o número da matricula "Mas tu só tá aqui há 5 anos, né? Como ia lembrar?", você diria; pelos minutinhos roubados pros muitos cigarros com café, falando mal da vida alheia (só de quem merecia); por não haver problema sem solução (tu sempre arrumava o endereço de quem resolvia); pela falsa cara de brabo; pelo respeito; pela consistência de anos na conduta amável e eficiente; pelas risadas roucas; pela atenção.

Quando pedi pra minha irmã ir doar sangue pra ti, fiz tanta propaganda que ela brincou: "Se ele estiver precisando, também posso doar um rim" e voltou do Fujisam dizendo que tu devia ser querido mesmo, porque tinha lá um time do Fortaleza pra dividir o sangue contigo.

Obrigada Rômulo, só porque eu gostava de você e você gostava de mim - sem pretextos nem explicações -, só por que os santos da gente cruzaram, e é tão bom quando isso acontece: achar um povo imperfeito como sou, ainda amigo de gente, de jogar conversa fora, praia, cerveja, cigarro e futebol, nesse mundinho cheio de pessoas de plástico e verniz.

Você dizia que estava na bica de se aposentar, eu te dizia que a gente não ia viver sem ti, que tu não tivesse o mau gosto de te retirar antes da minha formatura. Poxa, Rômulo, puxa vida, só te perdoo porque sei que tu foi à força.

Tiraram da gente, Rômulo, o mais elementar direito de tristeza de um humano, fazer o ritual da passagem dos entes queridos. Te abençoar, orar por ti, relembrar em grupo as presepadas, te marcar na memória, te despachar em grupo, com tão boas vibrações que a ida pro céu (talvez uns minutinhos no cantinho do pensamento) ia ser "de a jato".

Te amo, magrão, como só os tortos se amam.

Tu não evaporou, viu? Estará forever no meu coração.

Um beijo, vai em paz. Esquenta uma mesa da diretoria pros amigos.
Até".

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Das irmãs:

Meu irmão amado, quanta falta tua alegria nos faz. Sentimos uma dor imensa em nosso coração. Não temos palavras para expressar o vazio que ficou em nossas vidas. Nossa família se esvai como poeira. Que Deus te receba. Nem missa de sétimo dia podemos fazer por ti, meu irmão. Nossa Senhora te acolha".

Romilda, Rocicler, Rocilda, Ruthe e Regina

Francisco nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela amiga e irmãs de Francisco, Ana Virgínia Bastos Montezuma. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Sandra Maia, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 23 de fevereiro de 2021.