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Generi Faria de Carvalho

1953 - 2020

Foi líder na vida, vivendo e ensinando o sentido das palavras: resiliência, fé e acolhimento.

Este é um relato enviado pelo filho José Eduardo sobre sua mãezinha

Minha mãezinha Generi, a Nenzica, foi uma líder na vida. A segunda de quatro filhas numa família matriarcal, ela sempre fez questão de cuidar de todas as pessoas que passavam por seu caminho. Forte e independente, sobrevivente de situações tão piores, nem ela pensou que um vírus a venceria.

Eu, que sou acostumado com as palavras, não estou conseguindo me expressar, mas quero falar um pouco sobre todo o legado que ela deixou.

O primeiro é a resiliência. Diante de qualquer adversidade, minha mãe nunca dobrou ou rompeu. Sempre soube ser independente, forte e dona de toda a situação. Sua capacidade de constantemente resistir e adaptar foi também sua fraqueza, pois não reconheceu um ponto fraco no meio de toda sua força. Eu nunca vou me esquecer da nossa última conversa no telefone quando ela me disse que "tudo ocorre no momento certo e na forma certa, e que eu preciso aprender a me adaptar a cada situação". Essa adaptação, esse viver camaleão e essa força eu aprendi com ela, e é um legado que mamãe deixa para todos e todas nós.

Além disso, sua constante capacidade de acreditar no melhor é uma verdadeira lição. Quando eu soube que ela estava na UTI, peguei o primeiro voo para encontrá-la (e fui a última pessoa da família a falar com ela). Quando eu a vi, mamãe me disse confiante: "eu estou melhor e vou embora daqui a sexta-feira!". Minha alma sorriu de felicidade porque ela tem essa energia que emana e envolve todos ao seu redor, nos tornando capazes de acreditar no resultado positivo, mesmo quando o senso ou a ciência nos fazem querer acreditar no contrário.

Seu terceiro legado é a fé. No caso da minha mãe, uma versão bastante ampla do termo. Porque escolher uma religião se todas elas pregam o amor, a partilha e a bondade? A minha mãe é a definição do sincretismo religioso, e de Oxalá a Nossa Senhora, todo o panteão celestial a está acolhendo por saber que ela propagou a fé e a bondade no mundo. Eu, fruto desse ventre, decidi não seguir religiões, mas aprendi com ela a ter o amor e a bondade como minhas bússolas norteadoras e cabeçalho de toda iniciativa do meu ser. Sua fé no amor, nas pessoas e na espiritualidade segue viva em mim e em todos e todas nós.

Por fim, seu acolhimento. Se em coração de mãe sempre cabe mais um, o coração da minha mãe é do tamanho de um shopping center. Não existe uma única pessoa que conviveu com ela que não tenha sido acolhida e cuidada tal qual fosse sua responsabilidade materna, ou como se sua honra dependesse disso. Quando eu saí do armário e quando eu me casei, ela acolheu o Fran como um filho. Não só isso, se tornou promotora do acolhimento de todas as pessoas oprimidas e em necessidade, com altruísmo e bondade no coração.

O mundo perdeu uma verdadeira rainha, que comandou graciosamente todos nós em um reinado de bondade, carinho, atenção e amor. Mas ela segue viva em cada um de nós, em todas as sementes que plantou em nossos corações, que florescerão lindas Generis e que com certeza gerarão frutos por anos a vir. E embora ela tenha embarcado cedo nesse trem cujo ponto final aguarda a todos nós, eu prometo que até eu dar o meu último suspiro e subir no vagão para encontrá-la, eu vou honrar e homenagear sua vida e tudo que ela fez por mim.

Vai em paz, mãezinha. Eu te amo mais do que a razão é capaz de mensurar e vou contar os dias para nos vermos outra vez!

Generi nasceu em Palmeiras de Goiás (GO) e faleceu em Goiânia (GO), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Generi, José Eduardo de Carvalho Peres. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Francyne Nunes e moderado por Rayane Urani em 13 de março de 2021.