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Geraldo Arnaud de Assis Junior

1957 - 2020

Médico dedicado a cuidar da saúde e do bem-estar de sua gente.

Um combatente que luta contra seu maior inimigo não se afasta da trincheira e acredita, até o último minuto, que está apenas cumprindo a sua missão. Esse poderia ser o enredo de filme de guerra, mas é uma cena dolorosamente real e aconteceu em Pombal, no sertão da Paraíba.

Foi lá que Geraldo Arnaud de Assis Junior cresceu e virou o Doutor Geraldinho. Filho e irmão mais velho, o médico anestesiologista teve uma vida de dedicação à profissão, sempre pronto para fazer o bem a quem precisasse de sua ajuda.

Homem de hábitos simples, seu passatempo era o trabalho, pois o que ele mais gostava de fazer mesmo era cuidar dos outros — dos pacientes, dos amigos e dos seus dois filhos.

Filhos que eram motivos de muito orgulho. Os dois seguiram os passos do pai e também se formaram para cuidar — Geraldo Terceiro foi ser médico e Danuta, nutricionista. "Lembro-me de quando eu era criança e meu pai sempre me levava para os plantões, cirurgias e postos de saúde onde ele trabalhava. Eu ficava ao lado dele, observando tudo", conta a filha.

A vida e a profissão separaram os três: Geraldo Terceiro foi estudar e trabalhar em São Paulo; Danuta, em João Pessoa e Doutor Geraldinho seguiu no sertão paraibano, cuidando de sua gente.

Não se contentava com exames e consultas. Diariamente, sentava na sala de espera da UPA, puxava conversa com os pacientes e ouvia as queixas e histórias atentamente, sempre com um sorriso largo no rosto.

Pombal tem poucos médicos e, desde o início da pandemia de Covid-19, o trabalho aumentou. Dr. Geraldinho era especialista em intubações e fez a maioria dos procedimentos nos pacientes graves, internados nos centros de atendimento da cidade. Foram incontáveis as noites sem dormir direito, as horas de estresse e as longas jornadas sem se afastar do trabalho.

Quando julho chegou, apareceu uma brecha. Uma folga para uma viagem a João Pessoa, para um encontro com os dois filhos. Um respiro para os três, todos na linha de frente do combate ao coronavírus. O medo de contagiar um ao outro fez com que conversassem de máscaras e à distância. Falaram da experiência da pandemia, da vida e do futuro.

No fim, um longo abraço. Uma despedida inesperada, a última.

Quando Danuta voltou a Pombal, para a missa do pai, foi visitar a UPA onde Dr. Geraldinho trabalhou até o fim. Na parede, sobre a cadeira onde ele se sentava para conversar com o povo simples da cidade, uma singela homenagem: o sorriso do Dr. Geraldinho eternizado em uma foto na parede.

Geraldo nasceu em Pombal (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Geraldo, Danuta Rodrigues Arnaud. Este tributo foi apurado por Samara Lopes, editado por Cristina Piasentini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 16 de outubro de 2020.