1937 - 2020
Contemplativo, tomava o ônibus e anotava os nomes das cidades que via pela janela.
"Minas é dentro e fundo
Só mineiros sabem".
O verso de Drummond expressa, com precisão, o jeito de ser de Candu, pedreiro e lavrador, que sabia o valor de sentar-se à calçada para apreciar o dia, pausada e profundamente.
Geraldo ganhou o apelido por causa do nome do pai, Cândido Nicolau. Além de contemplar, o mineiro de Santa Luzia também gostava de caminhar pelos parques da capital do estado, Belo Horizonte. Tomava o coletivo usando passe livre e circulava livremente pelas redondezas. "Quando viajava de carro ou de ônibus, anotava, numa cadernetinha, o nome de todas as cidades no trajeto", recorda Silvana Regina, sobrinha e afilhada de Candu.
Como legítimo mineiro, Candu era de grande religiosidade. Frequentava a missa e o Terço dos Homens. E se não estava na lida ou na igreja, estava torcendo para o seu time do coração: o Cruzeiro Esporte Clube.
Querido por todos de seu convívio, não perdia a prosa com os amigos e nem a possibilidade de ajudá-los. "Meu padrinho era muito preocupado com os irmãos e com as amizades. Chegou a acolher alguns companheiros, em situação difícil, temporariamente, na própria casa", afirma Silvana.
Nunca se casou. Todavia, guardou no coração as poucas namoradas que teve na juventude. Falava sobre elas com carinho. Nunca teve filhos. A família de Candu eram os vizinhos e sobrinhos, para quem estava sempre disponível.
A afilhada conta que o tio fez sua primeira viagem de avião aos 76 anos, ao lado dela. Destino: Porto Seguro, na Bahia. "Ele não demonstrou nenhum medo. Apenas reclamou que não dava para ver, lá de cima, as cidades pelas quais estava passando".
Conhecer novos lugares, ser bom vizinho e praticar a caridade. Objetivos de vida que Geraldo perseguiu até a sua partida definitiva. Candu, de fato, foi cândido para quem teve o privilégio de sua companhia. "Cuidávamos um do outro. Que sorte a minha ele ser o meu segundo pai"!
Geraldo nasceu em Santa Luzia (MG) e faleceu em Santa Luzia (MG), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha e afilhada de Geraldo, Silvana Regina Santos Junqueira. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Luciana Assunção, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 28 de outubro de 2021.