1938 - 2020
Para Gerson, sempre era tempo de ver o sol se pôr dentro do oceano
Se tinha uma coisa que Gerson Luiz amava, além da família e dos amigos, era de estar em contato com a água. Levava esse amor consigo e, com o tempo, aprendeu a compartilhá-lo: foi com ele que Dijô, sua sobrinha, se encontrou com a imensidão azul do mar pela primeira vez. Também foi o tio que a ensinou a mergulhar, boiar, colecionar conchas e a reconhecer toda a vida presente ali.
Gerson pescava, tirava caranguejo da lama e catava massunim. Gostava de caminhar e, vez ou outra, encerrava suas andanças na beira da praia. Sentia os pés tocarem a areia e deixava o corpo mudar de ritmo, de tempo, de peso: era imerso que ele reaprendia a respirar.
No caminho de volta parava para conversar com os amigos e, em casa, cozinhava para a mulher e para a filha. No fundo, sabia que a comida não era das melhores, mas elas nunca reclamavam. Isso fazia com que ele não desistir de tentar: gostava de agradar os seus.
Talvez, se Gerson tivesse sido escritor, teria um livro sobre seguir em frente com simplicidade. Entendia que nosso ser também é composto por água e que, inevitavelmente, ela é colocada para fora, em forma de suor ou lágrimas. Durante seus 82 anos, aprendeu que chorar ou desistir não eram opções.
Ele lutou até o fim, e Dijô sempre lembrará dele como o homem que transformava qualquer época em férias: para Gerson, sempre era tempo de ver o sol se pôr dentro do oceano.
O maceioense faleceu em Maceió (AL), aos 82 anos, vítima do coronavírus.
Gerson nasceu em Maceió (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Gerson, Dijô. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Lisa Gabriela, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 18 de julho de 2020.