1935 - 2020
Adorava tomar cerveja assistindo televisão. Ao abrir a latinha, brincava: “Quer uma água mineral com gás?”
Viajar ofereceu a Giduvaldo suas maiores conquistas.
A principal delas, e também ponto de partida para as próximas, foi conhecer aquela que seria sua esposa.
Já firmado endereço na capital do Pernambuco, foi apresentado a uma jovem que aparecia em todas as férias no prédio onde morava — Era Marta. Duas vezes por ano, Marta fechava sua mala em João Pessoa para visitar a tia, em Recife. Dois anos após se conhecerem, ficaram noivos. Afinal, as férias eram "tempo pouco demais" para viver o amor que sentiam.
Alguns meses depois, Marta fez sua viagem definitiva para compartilhar a vida ao lado de Gidu, como era, carinhosamente, chamado. Assim, onde Marta era visita, tornou-se anfitriã.
Por trabalhar com propostas técnicas de estradas, seu escritório tinha um movimento constante. Giduvaldo sempre estava pronto para pôr a mão na massa, para trabalhar, para ir onde precisassem dele. Desta forma, três estados acabaram por acolher o nascimento de suas outras conquistas: Daniela, em Recife (PE), Luiz Ricardo, em Belém (PA), além de André Luiz e Denise no Rio de Janeiro (RJ), onde a família acabou criando raízes.
O trabalho levou Gidu a realizar seus maiores desejos: viajar e formar família. Se tanto bem tinha causado a ele, sabia que esse também era um caminho que os filhos deveriam seguir. Assim, quando o assunto era o futuro dos filhos, os estudos sempre foram uma questão primordial. “Ele nos educou para sempre corrermos atrás daquilo que desejávamos. Nada era de mão beijada”, lembra Denise, a filha caçula.
Orgulhava-se ao dizer que os filhos estavam bem-encaminhados na vida. Ele sabia: tinha dado certo. Denise também sabe, por isso sorri ao confessar: “Ele sempre foi muito rígido com nossos estudos: só podíamos passear nos fins de semana, o que, às vezes, gerava algumas brigas entre nós”.
Em casa, o Gidu também era o “papi”, “pai” ou "painho". Marta, de tanta entrega, o chamava de “filho”.
Por todos, era tido como quem fazia o melhor carinho. “Quando eu era criança, pedia carinho nos braços, nas pernas, no pé e nas costas. Ele fazia do jeito ideal: nem muito fraco, nem muito forte. E ele não cansava! Fazia carinho até a gente pedir para ele parar”, conta Denise, que complementa: “Ele transbordava afeto! Ninguém fazia carinho como ele”. Em seus últimos anos, os carinhos de Gidu passaram a ser exclusividade dos netos.
Quando estava em casa, ele gostava de ler jornal e assistir aos noticiários e esportes. Acompanhava várias modalidades, especialmente, tênis, futebol e vôlei.
Essa era, sem dúvida, a cena clássica de Gidu: em frente à televisão, com uma cerveja nas mãos — ao abrir uma latinha, se havia alguém por perto, oferecia: “Quer uma água mineral com gás?”. Se estivesse sozinho, anunciava: “Vou tomar água mineral com gás!” Entregava-se, então, à companhia da cerveja e da televisão.
A última viagem de Gidu aconteceu, simbolicamente, no Dia do Trabalho, quando teve que ser internado. Foi como se, ali, ele reforçasse seu conselho maior, sempre oferecido aos seus familiares, de que a base de tudo era o estudo e o trabalho.
Como mais um desafio, Gidu lutou bravamente.
Fica, agora, como a lembrança e a inspiração de alguém que lutou, corajosamente, pelos seus objetivos.
Gidu, para sempre no coração das suas maiores conquistas.
Giduvaldo nasceu em Pedra Lavrada (PB) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Giduvaldo, Denise Diniz Souto Lima. Este tributo foi apurado por Carolina Margiotte Grohmann, editado por Carolina Margiotte Grohmann, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de agosto de 2020.