1952 - 2020
Agora, a bossa nova de seu Gil foi ressoar em outro recanto.
Avô amoroso, pai presente e esposo apaixonado, Gil Vicente era, para todos, uma fonte imensurável de alegria. Não havia pessoa sequer que desgostasse do regatiano. “Sorriso largo e fácil, coração gigante e puro, não carregava sentimentos negativos no coração”, lembra sua filha, Ana Veloso. Levava consigo sempre seu violão, encantando os momentos mais felizes com sua bossa nova.
Eram nas festas com os amigos, nas missas na paróquia, nas noites na varanda ─ com a pequena Ana e seu lençol como plateia ─ onde o terno tocador encontrava palco para viver e fazer viva a doçura da música, da alegria e do seu carinho, que seguia ressoando mesmo quando parava de dedilhar.
Ressoou pela sua paixão, quando ao receber a notícia do pai juiz, que se mudaria para a comarca de Capela, em Alagoas, e levaria consigo todos os sete filhos, Gil, que era o menino mais velho lhe desafiou: quis ficar na capital, morando com os avós, perdendo regalias, aos protestos do pai. Quis ficar porque, como os amores apaixonados das belas canções, tinha ele encontrado a mulher da sua vida, com quem namorava desde os 15 anos. E, por cinquenta e dois anos seguiram juntos musicando a vida.
Ressoava pela sua presença, quando trocava confidências e dava conselhos às filhas, enquanto lhes arrumava os cabelos para irem à escola; e mais tarde, nos instantes que passava aproveitando a vida com os netos.
Era essa melodia, a da sua ternura, que ouviam todos aqueles que conviveram com Gil Vicente: os irmãos-amigos nas partidas de vôlei; os fiéis, quando o grupo Aliança tocava a liturgia na Paróquia São Pedro; os colegas do Porto de Maceió, que por vinte anos puderam conviver com um grande e sensível companheiro; toda a família, nos vários momentos juntos, onde não havia quem não fosse cativado. Sempre feliz, sempre sorrindo, sempre contando histórias.
Agora, a bossa nova de seu Gil foi ressoar em outro recanto.
Para quem fica, a saudade tem título e autor conhecidos. A saudosa filha lembra do pai com um carinho infindável: “Ele tinha a capacidade de alegrar qualquer momento, qualquer lugar. De levar amor e aconchego em todos os instantes de nossas vidas”, enfatiza Ana.
“Sempre que ouvir uma bossa nova... uma gargalhada gostosa... sempre que alguém me disser "te amo", lembrarei do meu pai. Ele não se cansava de dizer”, conclui.
Gil nasceu em Maceió (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Gil, Ana Carolina Veloso. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Lucas de Araújo Rocha Carvalho, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 3 de fevereiro de 2021.