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Hélio de Souza Silva

1961 - 2020

Pintava as casas e a vida daqueles que amava com lindas cores.

Pintor atencioso, Hélio tinha o dom de unir "as cores do São Paulo Futebol Clube a várias outras para dar vida às casas dos familiares e clientes", lembra a sobrinha Caroline, e ainda salienta que tio era um profissional tão exigente que quando foi pintar a casa dela "ficou bravo pela qualidade da tinta, que não era da sua marca favorita".

A sobrinha lembra que o tio "amava ler jornais, não apenas um, mas pelo menos três diferentes, todos os dias". Era assim que cultivava o hábito de caminhar, ao ir até a banca diariamente.

Hélio era amado pelos amigos e por toda a família. Amava fazer a diversão das sobrinhas, que não perdiam a oportunidade de brincar de trampolim na barriga do tio. Caroline revela que ele era "mestre no cafuné acompanhado de um assobio". Essa era a sua "forma única de dar carinho".

Hélio foi casado com Cenira, com quem teve dois filhos, Aline e Silas. Em 2019, a paleta de cores da vida de Hélio mudou após a perda do filho. As cores frias tomavam o lugar das cores quentes e vibrantes, sobretudo nos momentos sombrios, marcados pela depressão. Quando era visitado por esses sentimentos, Hélio buscava uma saída: caminhava na madrugada.

Caroline narra que "quando o dia amanhecia sob tons escuros, a caminhada deixava de ser apenas seu exercício físico favorito e se transformava em um pincel, para embelezar o trajeto com cores alegres e brilhantes".

Com muito esforço, Hélio continuava a exercer o seu dom de colorir a vida daqueles que estavam ao seu redor. Assim, deixou o seu carinho pintado no coração de todos. "Me lembrarei dele como o tio carinhoso, sempre preocupado comigo; ainda que não estivesse bem, ele sempre procurava saber como eu estava", diz a sobrinha agradecida.

Caroline ainda revela que não era muito difícil convencer aquele coração tricolor a mudar de opinião. Ela recorda como conseguiu fazê-lo mudar de candidato nas eleições para prefeito de São Paulo. "Ele enviou um áudio dizendo que 'ia mudar o voto, mesmo não querendo', de tanto que eu insisti". Esse era o seu jeito de demonstrar carinho por aqueles que amava.

O caminho de Hélio esmaeceu, mas o seu brilho permanece presente. Está um pouco mais distante, mas não tão longe que não se possa ver. Até mesmo a pequena Manuela, outra de suas sobrinhas, lembrou do tio dizendo que "agora ele é uma estrelinha".

Hélio nasceu em Junqueirópolis (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Hélio, Caroline Fernandes. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 10 de agosto de 2021.