1937 - 2020
Levou a luz do conhecimento onde reinava a desesperança.
Poucas pessoas a conheciam como Horacina. Para todos, era sempre a Cininha, confundida, na maioria das vezes, com a fada Sininho pelas crianças.
Uma educadora acima de tudo, acreditava que o direito de ter acesso ao conhecimento, que tem início com a alfabetização, era sagrado.
Passou a vida alfabetizando, sempre os que mais precisavam. Foi alfabetizadora de adultos na comunidade da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, e de crianças na Vila Humaitá, em São João de Meriti.
“Mamãe era uma leitora voraz, mesmo com sua deficiência visual, pois tinha apenas 20% da visão. Mas, também, era foliã animada, que adorava os dias de Carnaval e que nunca perdia a oportunidade de ouvir um bom samba ou de contar uma boa piada”, conta Lucia Helena, filha única de Cininha.
Aliás, música boa sempre esteve presente em sua vida. Fosse uma bela ópera ou um sertanejo raiz. Da mesma forma que assistiu animada a um desfile na Sapucaí, assistia a um show de música cigana em Santa Tereza.
“Sempre que chover vou me lembrar dela dizendo que eram lágrimas do céu para trazer vida ao solo ressecado. Penso que ela também foi como uma chuva de saber para ressecadas mentes de pessoas que haviam sido destituídas de quase tudo”, diz a filha.
Dona Cininha amava uma pizza, um hambúrguer ou cachorro-quente. Lanchinho! Qualquer desculpa era boa para trocar a refeição por um lanche.
Viveu a dádiva de um grande amor, o pai de Lúcia, que foi vítima de câncer em 2007 e, desde então, mantinha-se forte por amor à filha e por medo de deixá-la sozinha.
Chuva e luz de saber. Aliás, o nome da filha, Lúcia, diz muito sobre a personalidade iluminada desta carioca que não gostava de dias nublados e adorava um pôr do sol.
Horacina nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Horacina, Lucia Helena de Ornellas Pedrosa. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de setembro de 2020.