1922 - 2020
Dizia, orgulhosamente por onde quer que fosse, ser a matriarca da família Viana Soares.
Dona Ianny fora uma mulher espirituosa e de personalidade forte. Encarou a vida com um sorriso largo em seu rosto e nunca desistiu de suas batalhas.
Ela nasceu na Cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e passou uma parte de sua vida na fazenda. Quando era criança, acompanhava sua mãe na costura e ajudava o pai a escrever um Livro de Receitas, que hoje em dia é um objeto que está com sua família, com valor sentimental sobre o mesmo.
Aos seus 35 anos, foi morar em Porto Alegre com seus dois filhos, quando passou em um concurso. Ianny sempre fez questão de ajudar a família, fosse como fosse e isso perdurou durante gerações. Afinal, ela esteve presente em cada momento especial da vida de seus netos e bisnetos, apoiando suas escolhas, prezando por sua educação, ajudando de bom grado na criação de todos eles. Ela era tudo para eles. Os gêmeos, quando ainda eram apenas bebês, não conseguiam pronunciar "bisavó", então apelidaram-na carinhosamente de "Bibi". O sucesso do apelido foi instantâneo, assim todos passaram a chamá-la dessa forma também.
Bibi nasceu no Dia de Natal, o que significava que a festa tinha que ser dupla e os presentes precisariam ser dois, porque quando ela era criança, ganhava apenas um presente de sua mãe, dizia que "por ser mais caro, valeria por dois".
Ianny era uma senhora muito ativa! No auge de seus 97 anos, era apaixonada por palavras cruzadas, por mais que sempre se estressasse ao mesmo tempo em que se divertia. Ela fazia fisioterapia e também caminhava no Sol. Gostava de se maquiar, escutava rádio e assistia novelas, porém o que ela realmente adorava era estar perto de sua família, pois não havia nada mais honroso que zelar por aqueles que tanto amava.
Para Joana, uma das bisnetas de dona Ianny, a saudade bate à porta de seu coração para se fazer presente sempre que ela se lembra de Bibi, sentadinha na cadeira da sala, passando o dia trabalhando em suas palavras cruzadas. Ora relaxada, ora proferindo a raiva que sentia com o passatempo. Gosta também de se recordar de quando a bisavó penteava seus cabelos delicadamente, em um momento tão único das duas. "Mas eu acho que a lembrança mais viva que eu tenho dela sou eu entrando em sua casa e ela me esperando, de braços abertos, dizendo: 'minha joaninha!'", finaliza Joana, emocionada.
Ainda em suas recordações, dona Ianny, que sempre ia ao Bingo, esqueceu-se de avisar que madrugaria. Sua bisneta lembra que a família chegou a chamar a Polícia para encontrar a bisavó destemida, jogando Bingo como se não houvesse amanhã! Em outra lembrança, ela teve sua correntinha furtada no ônibus, e quando ela deu por si, olhou para o ladrão, riu e gritou "Se ferrou, não é de ouro!".
E é exatamente com as lembranças de seu espírito leve, descontraído e sua risada branda que Ianny marca o mundo e os corações da família a qual orgulhosamente, era sua matriarca.
Ianny nasceu em Pelotas (RS) e faleceu em Porto Alegre (RS), aos 97 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela bisneta de Ianny, Joana da Costa Eschiletti. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Letícia Virgínia da Silva, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 5 de dezembro de 2021.