1989 - 2021
A deficiência fez parte de quem ele era, mas não o definiu: de fotógrafo a criador de gado, de tudo ele foi, de tudo ele fez.
Logo nos seus primeiros meses de vida, Ícaro mostrou ao mundo que veio para ser diferente. Não mamou, não andou por muito tempo, não jogou bola. Cheio de vida e alegria, e sempre ancorado e estimulado pelo apoio da mãe, ultrapassou e venceu inúmeras limitações.
Ele era o centro de nossas atenções, tudo sempre foi adaptado para ele, toda a família movia o que podia pra deixá-lo confortável e feliz. “Desde criança sempre fiz aquilo que ele queria fazer, mesmo se não podia, ai de mim se não fizesse” conta a irmã Maria Eugênia.
Muito inteligente e ousado na sua visão de mundo, nutria um olhar analítico sobre os fatos. Adorava contar histórias com ensinamentos morais e amava estar rodeado da família e dos amigos. Namorou e curtiu a vida, com muita independência e gratidão.
A irmã relembra algumas falas diárias de Ícaro enquanto a mãe o banhava: "Nossa, como eu sou grato a Deus, eu tenho tudo de bom, mãe, agradeço por minha casa, minha cadeira de rodas, minha cama, meu celular". Com ênfase, ele dizia: “A deficiência faz parte de quem eu sou, mas não me define. Somos muito mais do que um rótulo!”.
Sua ambição ia longe. Adorava trabalhar e ganhar dinheiro. Foi fotógrafo, criador de gado, investidor, designer, digitador, tornando-se uma das pessoas mais conhecidas da sua cidade. Com afinco, conquistou muitos dos seus desejos, inclusive seu tão sonhado carro adaptado. O último e maior sonho, no entanto, ficou por realizar: Ícaro queria ter um drone para ver tudo do alto e chegar a lugares onde ele não conseguia por conta de sua deficiência. Parecia querer fazer jus ao significado do seu nome, de origem na mitologia grega: “aquele que alcança o céu”.
Com emoção, a irmã reproduz outra de suas falas: “Moço, eu aprendi que, quando você está em um algum lugar, e você quiser ir embora, não precisa falar pro povo que você vai sair, porque vai cortar a 'vibe' da pessoa que tá ali de boa conversando, ‘pega e sai caladin’”. Ela completa: “Foi assim que ele fez, ele se foi caladinho e não despediu de ninguém. Deus chamou para fotografar os jardins dos céus”.
Ícaro nasceu em Brasília (DF) e faleceu em Unaí (MG), aos 31 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Ícaro, Ingrid Santos Costa . Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de janeiro de 2023.