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Iracema Silva de Sá

1957 - 2020

Iracema viu sonhos se tornarem realidade: viu seus três filhos criados e formados e se tornou avó.

Iracema é o nome dela. Não a de José de Alencar, mas a esposa do Jonas Victorino, mãe do Janssen Silva, da Geisi Sá e do Jonas Junior. Embora não tão claro, carregava muito do significado do nome. Uma doçura melíflua, sob a crisálida de mãe superprotetora, irmã rígida, educadora exigente.

Abdicou de muitas coisas para criar seus filhos. Seu sonho? "Sei que tinha muitos e compartilhava poucos. Mas, sem dúvidas, ver cada filho criado, formado, sendo pessoas dignas era o 'trending topic', que ao passar dos últimos anos foi substituído por ser vovó", conta o filho Jonas.

E seus sonhos viraram realidade: lhes foram dados Nícolas, Maria Luiza e Violeta como netos. Conseguiu realizar esses dois desejos, com muita alegria.

Ainda alimentou mente e alma, se formando em teologia e psicanálise, em meio às muitas lutas e batalhas dolorosas. Talvez impossíveis para alguns seres humanos. Assim, mostrou sua força. Mas, algumas dessas batalhas deixaram marcas. "Ninguém sai ileso quando ludibria Thanatos tantas vezes" — mas assim ela o fazia.

"Talvez por isso o espanto, talvez por isso não consigo acreditar que não terei mais o abraço ou as mensagens de áudio no meu celular, apenas para dizer 'meu filho querido, eu te amo e estou com saudades, vem ver a mamãe!'. Tá doendo muito! Porque sei que a vida dela foi abreviada, porque sei que não precisava ser assim. Porque sei que o caos que estamos vivendo alcançou a minha casa e tornou nossa estrela em estatística. Partiu antes do amanhecer e deixou amor infinito, lágrimas e saudade. Ganhou a paz dos anjos e a eternidade. Te amo, minha mãe! E ainda que você não possa mais me ouvir, quero apenas que ecoe ao máximo, a ponto de ser infinito, quem sabe chegue a ser eterno, capaz de te alcançar", diz Jonas.

Iracema nasceu em Nova Iguaçu (RJ) e faleceu em Duque de Caxias (RJ), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Iracema, Jonas Victorino de Sá Junior. Este tributo foi apurado por Carla Cruz, editado por Raiane Cardoso, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 11 de julho de 2020.