Sobre o Inumeráveis

Isaías Bezerra Cavalcante

1966 - 2020

Ele era lar. A cada tijolo empilhado, suspirava-lhe o coração.

Tinha um olhar que penetrava a alma, o qual, ao mesmo tempo, dizia "fica tranquilo que eu cuido disso" e pedia "cuida de mim, preciso de você".

Suas mãos construíram lares, e os pedacinhos de seu coração se espalharam em cada um dos vários canteiros de obras pelos quais passou. Isso porque, enquanto trabalhava, Isaías fazia questão de transmitir boas vibrações às pessoas que, futuramente, fariam daquela casa, o seu lar.

Amigo, irmão, marido, pai, tio e pastor; com sorriso largo, olhar solidário e coração gigante. Para Maria Barbosa, sua esposa querida, "Ele tinha um jeito destemido. Nunca demonstrava fraqueza perante uma situação difícil. Em 16 anos de convivência, raras vezes o vi abatido. Mesmo quando algo muito grave acontecia, ele passava pouco tempo triste e logo se reerguia, trazendo palavras de conforto para os demais."

Como todo bom cristão, Isaías tinha os costumes de pastorear suas ovelhas e repartir o pão. Aprendia mais que ensinava, pois, seu senso inato de liderança, sempre o incentivou a ouvir mais e a doar-se ao próximo.

"Meu velho tinha um olhar que penetrava a alma", diz a filha mais velha, Natália, que, lindamente, continua: "Ele sentia quando algo não estava bem comigo, e ligava. Independentemente da briga ou do desentendimento que tivéssemos, não existia orgulho maior que o seu amor, zelo e cuidado por mim e pela minha mãe. Eu perdi um pai, meu herói, meu primeiro amor, meu conselheiro, meu melhor amigo... Perdi tudo, pois nunca vou encontrar, em uma só pessoa, o que eu tinha nele."

Isaías sempre quis ser abrigo. Queria, com a sua presença, transpor o eterno aconchego do lar, tanto para a esposa quanto para os filhos. Com suas próprias mãos, deu cor e forma ao lar que tanto desejou, transpondo o aconchego de um abraço e a maciez de um afago. De fato, um operário em construção. Não era tempo de Isaías dizer adeus. Ainda era tempo de ser cuidado.

Isaías nasceu em Camaragibe (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Isaías, Lizandra Teixeira de Souza Freire. Este tributo foi apurado por Viviane França, editado por Letícia Fortes, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2020.