1939 - 2021
Um gatinho a visitava nas tardes de quarentena. "Ele gosta das histórias que eu conto, por isso vem", dizia ela.
Carta aberta de Raíssa para a avó Iza Lucy.
"Filha, quando será que a vacina chega, hein?", a pergunta feita tantas vezes no último ano ficou sem resposta. A morte tão próxima de uma possível imunização chega a ser revoltante.
Foi uma mulher que viveu suas batalhas internas e externas, mas nunca desistiu. Cuidou de dois filhos pequenos após a morte de seu jovem marido, assumiu as finanças e a responsabilidade da família em uma época em que esse espaço era pouco ocupado por mulheres. Cuidou de seus netos e das centenas de plantas que cultivou ao longo de sua vida.
Viveu a maior das dores de uma mãe e sepultou seu filho mais novo.
Dividia as tardes de quarentena com um lindo gatinho que a visitava todos os dias, "acho que ele gosta das histórias que eu conto e por isso vem", ela me confessou e logo caiu na gargalhada.
Com esse nome lindo, Iza Lucy estava sempre impecável e bela, sem o menor esforço, o que revelava uma certa elegância da alma.
Dona Lucy, que passou por poucas e boas em vida, privada de tanta coisa, agora repousa tranquila. A ausência de seu filho querido, que é meu saudoso pai, ao menos não lhe causa mais sofrimento. Está descansando em paz ao seu lado agora. Juntos estão bem.
Fica aqui minha homenagem em nome de toda família.
Adeus, vó.
Iza nasceu em Ariranha (SP) e faleceu em Catanduva (SP), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Iza, Raíssa Gouveia Ferreira Lazarini. Este tributo foi apurado por Hélida Matta , editado por Talita Camargos, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 5 de abril de 2021.