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Jacira de Jesus Milani

1946 - 2020

Para onde foi, com certeza, será sempre amiga, defensora e guerreira, como foi aqui na Terra.

Essa homenagem foi enviada por uma amiga. Uma quase filha. E fala de uma mulher muito generosa, que soube fortalecer uma menina cujas dificuldades poderiam impedir que alcançasse tudo que alcançou, não fosse a força que Jacira lhe deu.

Imagina alguém capaz de acompanhar uma amiga para outra cidade distante em um tratamento médico, só para não deixar mãe e filha, vizinhas amigas, irem sem um apoio? Jacira foi essa pessoa.

Às vezes, era ela quem levava a menina Luzia para a escola. Luzia não andava, vítima da paralisia infantil. Outras vezes, ficava com Luzia depois da escola. Era uma amiga inestimável para essa família.

Jacira tinha sua própria família, mas cuidava de ambas com a mesma dedicação, é importante afirmar. Foi uma mulher daquelas que se desdobra em generosas ações. “Foi parceira e protetora dos filhos, dos netos e de todas as pessoas que conheceu”, conta Luzia.

A amizade que nasceu em uma pequena cidade no Paraná, caminhou pelo estado, atravessou a região sudeste, consolidou-se em São Paulo e não se abalou pela distância, de mais de 3.000 km, que separa o Acre da capital paulista, nem mesmo quando Jacira e a família se mudaram para lá.

Jacira foi uma mulher incrível que vivia intensamente o sentido da sororidade, ainda que não soubesse o quão lindo é o significado dessa palavra. Um anjo na vida de quem a conheceu. Cuidou de Luzia e de sua mãe durante o tratamento. Anos depois, pouquíssimo tempo depois de se casar, Luzia ficou viúva e Jacira estava lá para acolher e fortalecer a amiga. E veja que, mesmo tão distante, quando se falaram pela última vez, no Dia das Mães, foi sábia conselheira, ajudando Luzia a lidar com a própria maternidade.

Diz-se que a gratidão, por vezes, fala mais sobre quem sente do que sobre quem a mereceu. Essa homenagem mostra que tanto quem mereceu a gratidão como quem a sente são mulheres muito especiais.

“Jamais esquecerei o bem que ela me fez”, diz Luzia. E a homenagem que fez, tratará de levar o exemplo de Jacira adiante.

Jacira nasceu no Paraná e faleceu no Acre, aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela amiga de Jacira, Luzia Alzira Barbado. Este tributo foi apurado por Ricardo Pinheiro, editado por Hélida Matta, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de setembro de 2020.