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Jadyr Araújo

1936 - 2020

Todo mês de agosto, em um ônibus chamado Jerônimo, fazia uma viagem para pescar.

Quando chegava agosto, em Casimiro de Abreu, era certo que haveria festa. O motivo era a partida do Clube de Pesca Jerónimo rumo ao Mato Grosso para uma viagem de pescaria que duraria cerca de 20 dias. “O horário que o ônibus ia sair todo mundo já sabia, era maior festa”, lembra Viviane Trigo, a esposa de um dos netos de Jadyr, Leury Pereira.

Conhecido pela cidade inteira como "Doca" — como a parte de um porto reservada para manutenção, carga e descarga de navios — seu nome era sinônimo de pesca. Apesar de ser bancário por profissão, sua grande paixão mesmo era a pescaria. Quando não estava pescando no Rio São João, em Casimiro mesmo, estava planejando a próxima viagem que faria no Jerónimo.

O nome do clube, que tinha até mesmo suas próprias camisas personalizadas, veio do ônibus velho que seus membros compraram e que reformaram inteira para as suas viagens, deixando apenas seu chassi original. “Nas comemorações de Dia dos Pais, nunca estavam em Casimiro”, recorda Viviane. É porque todos os membros homens da família participavam do clube. Nem mesmo quando teve um problema no coração, Doca deixou de ir; no final, até mesmo o médico ficara convencido de que o melhor para o paciente era participar da viagem, de tão frustrado que havia ficado com a possibilidade de não viajar.

Mas, Doca não gostava apenas de pescar: uma das suas grandes diversões era contar, nas reuniões de família, as aventuras que vivia em suas viagens e... dar aquela exagerada, típica de um pescador. Sempre narrava como havia pescado o maior peixe do grupo ou ainda seu encontro com uma onça, no meio do Pantanal. Os adultos ficavam meio desconfiados, mas as crianças sempre acreditavam e adoravam ouvi-lo. Viviane costumava brincar com ele, dizendo: “Hoje eu vou te embebedar, porque não aguento mais ouvir essas histórias.”

Houve uma ocasião que o marcou em especial, foi quando o marido de Viviane, voltando de uma viagem que fez aos Estados Unidos, trouxe para ele um molinete supertecnológico. “Gostei, mas isso deve ser muito caro, quando eu tenho que te pagar?”, perguntou ele ao neto quando viu o presente. “Ele ficou muito emocionado com esse presente, marcou muito, foi uma coisa que ele não esperava”, finaliza Viviane.

Muito conversador, na casa dele sempre parava gente na hora do almoço para conversar. Ele sempre foi muito carinhoso. Doca casou-se e separou-se duas vezes: na primeira união, com Ninice, falecida em 2000, teve os quatro filhos, Eliane, Alan, Eliete e Alessandro. Casou-se também com Dilceia.

Jadyr nasceu em Casimiro de Abreu (RJ) e faleceu em Niterói (RJ), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa do neto, Leury Pereira, de Jadyr, Viviane Trigo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Audryn Karolyne, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 6 de julho de 2020.