1951 - 2021
Ele tinha mania de ser bom: o que era dele, era de todos.
Jair era um homem generoso de alma gentil. Ótimo amigo, marido e pai, ele tinha muita fé em Jeová. Era ranzinza também, isso lá é verdade. "Meu pai tinha mãos grandes e fortes, media um metro e sessenta e oito, era careca, com o rosto cheio de pintinhas, que amava e que herdei dele", conta a filha Dayane, sobre seu pai Jair.
Descendente de indígenas, o Jair se orgulhava de sua história e de seus ancestrais. Embora nascido no interior de São Paulo se considerava baiano, por conta da origem dos pais. Quando jovem, ele trabalhou nos correios e amava, pois, podia conhecer lugares e pessoas diferentes. Tempos depois se tornou um exímio metalúrgico.
Foi casado com Maria Darci por quarenta e cinco anos. Quando a conheceu, ela não tinha ainda completado dezoito e se casaram no juizado de menores. Anos depois, eles reiterariam seus votos, agora, com os filhos Dayane e Hugo por testemunhas. O que era motivo de brincadeirinhas do pai que, entre um riso e outro, sempre dizia: "Só você, amor, para me fazer casar, duas vezes, com a mesma mulher."
O Jair e sua Maria compartilharam tudo e sofreram juntos a dor da perda do filho Hugo, que partiu cedo, aos dezenove anos.
Ele era apaixonado pela família e leal aos amigos que cultivava. Extremamente cheiroso e vaidoso, gostava de estar bem-arrumado. O britânico, como às vezes era chamado, por sua pontualidade, era esforçado em tudo o que fazia. Filho dedicado, sempre viajava para a Bahia, e por lá ficava um período cuidando da mãe.
Amava dormir e depois do almoço sempre tirava uma sonequinha. Música, a filha nunca tinha ouvido o pai escutar, mas cantar ele cantava, cânticos de sua denominação. Dayane diz que do seu pai, sempre se lembrará do olhar firme, da risada espontânea, dos filmes que partilharam, dos mesmos gostos que tinham, da voz a chamando de Dayaninha e dizendo: "Filha, vamos conseguir... Confia".
Jair deixa a esposa, a filha, com quem dividiu o leito de hospital e os amigos. "Te amamos pai! Para sempre. Porque para amar", diz a Dayane, "não é preciso estar presente. É um sentimento que transborda e transforma".
Jair nasceu em Jales (SP) e faleceu em São José do Rio Preto (SP), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Jair, Dayane Cristina Araújo Brandão. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Rosa Osana, revisado por Sandra Maia e moderado por Rayane Urani em 20 de junho de 2021.