1966 - 2020
Se tem uma palavra que a descrevia, é dedicação.
Jane da Silva Mattos dedicou sua vida a tudo e todos que amava: a família e o trabalho como professora na Escola Municipal de Ensino Fundamental Rui Barbosa, na qual lecionava havia 25 anos.
Era uma avó compreensiva e participativa para os netos, Henrique, Caetano e Laura, e uma mãe sempre presente na vida dos filhos, Juciane e Jordan. Pelas palavras de Juciane, “Mesmo quando estava longe se fazia presente e preocupada”. Segundo ela, durante a pandemia o convívio com os netos foi intensificado, e ela conseguiu construir a memória de melhor avó para as crianças, com direito a danças no meio do pátio, muito colo, acampamento na sala e o melhor arroz de leite.
Como professora, não era diferente. Considerava o “Rui”, como chamava o colégio, sua segunda casa. Lá todos conheciam a “sora” Jane, e com ela não tinha tempo ruim: ligava para um, falava com outro, “pegava junto” e logo achava uma solução. Muitas vezes se entristecia pela dificuldade que os alunos passavam, mas também ficava muito feliz de acompanhar as vitórias e o crescimento das crianças.
Jane escolheu ser professora porque sempre acreditou na ideia de ensinar e participar da construção do conhecimento. Nunca cogitou nenhuma outra profissão. Formou-se no Pedrinho, como é conhecido o Instituto Estadual de Educação Professor Pedro Schneider, onde os períodos finais não foram fáceis: foi necessário conciliar uma gravidez na adolescência com inúmeros trabalhos e noites maldormidas, mas não desistiu do seu sonho. Deu aula para as classes iniciais no Rui Barbosa por muitos anos, e também foi secretária e vice-diretora.
De acordo com a filha, Juciane, sua causa social era a bondade, e vivia para tentar fazer do mundo um lugar melhor. Sempre se envolvia com a vida e a história das pessoas. Ajudava com vale-transporte ou conseguindo uma indicação de emprego para alunos do Projovem, arrecadava roupas e calçados dos netos para vestir os alunos que tinham frio ou que chegavam molhados da chuva. Além disso, enxergava sinais de abuso e descaso familiar onde outros só viam uma criança problemática e rebelde e sempre tentava ajudar.
A filha conta que o último presente de Dia das Mães que Jane ganhou foi o livro “Uma pergunta por dia — Diário para 5 anos”, no qual o leitor deve, a cada dia, responder uma pergunta, o que permitirá depois fazer uma comparação dos momentos vividos ao longo dos anos. Ao rever uma anotação dela, Juciane afirmou ter encontrado uma que define exatamente como a mãe era. À pergunta “Como gostaria que lembrassem de você?”, sua resposta foi “Do jeito que sou, sempre muito preocupada com todos”. E é exatamente dessa forma que Jane será lembrada: como a pessoa altruísta que era, fazendo o bem e deixando um rastro de boas ações por onde passava.
Jane nasceu São Leopoldo (RS) e faleceu Porto Alegre (RS), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido filha de Jane, Juciane Mattos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Amanda Krohn, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 19 de setembro de 2020.