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Janete Correia

1953 - 2020

Assar bolos aos finais de semana para receber os netos em sua casa era sagrado para ela.

Jane, como ela era carinhosamente chamada pelos mais próximos, teve uma infância dura: trabalhava na roça, com os pais e os sete irmãos. Adulta, tinha a honestidade como valor essencial, sabia ser justa com as pessoas e preocupava-se com o próximo; gostava de fazer o bem e de cuidar da família.

"Meu avô materno era do Rio Grande do Sul e foi para o Paraná na década de 1960. Sempre trabalhou na roça; um homem muito divertido, mesmo que rude às vezes. Era apaixonado pelos netos e gostava de contar histórias... Minha avó tinha uma relação muito boa com minha mãe, e sofreu muito com o falecimento dela. Elas sempre passavam uns 4 a 5 meses juntas", conta o filho Odir.

Jane foi casada com Odair, o amor de sua vida, com quem construiu uma grande família ao longo de vinte e cinco anos. Juntos, gostavam de viajar, principalmente para visitar os familiares e pescar nos rios Araguaia e Tocantins.

Mãe de três filhos, Vranlei, Odir e Odirvran, estava sempre preocupada com eles, que quando crianças eram bem arteiros. Era paciente; mesmo quando ficava brava, era sempre compreensiva. Avó noveleira, boleira e amorosa, sempre que podia, queria estar na companhia dos netos: Derek, Dener, Gabriele, Brenda, Cibele, Italo, Vranlei Junior, Alexia, Valéria, Mayna e Thadylla. Gostava de preparar bolos para eles nos finais de semana, principalmente os de chocolate e de abacaxi.

Apesar de nunca ter trabalhado fora de casa, aos 60 anos, Jane decidiu vender artesanatos. Fazia tapetes de crochê, técnica que aprendeu com as amigas e lendo revistas. Apaixonada por cuca de banana e pão caseiro com nata de leite, que ela mesma fazia, estava sempre se reunindo com as companheiras e visitando os filhos, para conversar sobre as novidades do dia e receber notícias dos parentes.

"Minha mãe sempre foi muito presente. Me recordo da minha primeira vez indo à escola: disse para ela que tinha medo de ficar lá sozinho e ela ficou o tempo todo me dando força. Era uma mulher incrível! Me lembro também da poltrona marrom, com pés de alumínio, em que ela se sentava toda vez que vinha me visitar. Ela chegava em casa por volta das 19h30 e só ia embora lá pelas 22h", relembra, com carinho, o filho Odir.

Janete nasceu em Iraí (RS) e faleceu em Marabá (PA), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Janete, Odir Correia. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha , editado por Felipe Bozelli, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 26 de outubro de 2021.