1992 - 2020
Nos dias de folga, gostava de tomar banho de mar e tocar as músicas da Marília Mendonça no violão.
O Natal de 1992 redefiniu os papéis dos membros da família Pereira dos Santos. Naquele específico 25 de dezembro, a festa era pelo bebê que viria a ser, muitas vezes mais, motivo para reunir a família. Dali em diante, Edivaldo e Jeane seriam mais que um casal: renasciam como pai e mãe. Ednalva seria mais que irmã e cunhada: renascia como tia. Por parte da mãe, a caçulinha já era esperada pelos irmãos, Simone e Junior. O Natal de 1992 trouxe um só presente para a família toda: o nascimento da bebê.
Ednalva, muito amiga da cunhada e nova mamãe, foi a única a ganhar um presente extra. Além de tia, foi escolhida para ser madrinha da menina natalina. E mais! Junto ao irmão, escolheria o nome da afilhada. Assim, juntando os seus melhores, batizaram a primogênita da família: Jéssica Ingrid.
É impossível contar a história de Jéssica sem falar de Ednalva. Afinal, era para ela que Jéssica sempre ligava para começar o dia com a “bença, tia”. Era para ela que Jéssica pedia ajuda, quando a dificuldade batia à porta. E foi nela, na tia Ednalva, que Jéssica encontrou refúgio quando a mãe, Jeane, faleceu. “Desde pequena levo Jéssica pra todos os lugares. Quando Jeane morreu, assumi o papel. Tentei fazer por ela tudo o que uma mãe faria”, conta Ednalva.
Onde Jéssica chegava, distribuía alegria. O sorriso era sua marca registrada, pois era com ele que expressava a vontade de viver e de realizar sonhos. Aos 27 anos, já havia alcançado parte deles: a casa própria e a filha, Jihne Hawanne, ao seu lado. Faltava pouco, muito pouco, para que outro sonho também fizesse parte da sua realidade: cursar a faculdade de Administração.
A rotina de Jéssica era da casa para o trabalho e do trabalho pra casa. Funcionária destaque no comércio onde trabalhava, sua performance era sempre reconhecida com viagens e medalhas. Mas quando era dia de folga, todos sabiam onde encontrá-la: ou na praia Atalaia Velha, ou na praia da Costa. Se estivesse em casa, era certo que estaria abraçada ao violão, presente da irmã, tocando e cantando Marília Mendonça.
Jéssica deixa a sua paixão maior, a filha Jihne Hawanne, aos cuidados da tia Ednalva. E ela, mais uma vez, cumpre seu papel na família Pereira dos Santos: de renascer. Assim, mais uma vez — e quantas vezes necessárias forem —, Ednalva se faz mãe. Reconhece a missão de assumir o novo e velho papel de “fazer tudo o que uma mãe faria”. E Ednalva faz. E seguirá fazendo. Pois, assim, sabe que dará continuidade à vida de Jéssica. Mais: aos sonhos de Jéssica. Ednalva, que sempre se achou “tia, quase mãe”, sabe que é por completo o amor que entregou à sobrinha. E seguirá dando. Amor e benção. Daqui pra frente, seguirá ela sendo responsável pelo sonho realizado de Jéssica: a pequena Jihne Hawanne.
Jéssica nasceu em Aracaju (SE) e faleceu em Nossa Senhora do Socorro (SE), aos 27 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela tia de Jéssica, Ednalva Pereira dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por Carolina Margiotte Grohmann, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 1 de outubro de 2020.