1937 - 2020
Homem negro, teve pouca oportunidade de estudar. Batalhou com honestidade, inclusive sendo engraxate.
Um dos nove filhos de Delcídio e Umbelina, Sr. João nasceu em uma família humilde e negra do interior de Minas Gerais.
Quando criança, brincava nas roças, no meio do gado e de contos caipiras. Na adolescência, foi engraxate e pouco estudou.
A juventude foi marcada pela mudança com os irmãos para São Paulo, onde iniciou uma nova profissão na construção civil e onde conheceu Irani, uma linda jovem da sua cidade natal.
Sr. João e Dona Irani se casaram e tiveram quatro filhas.
Aos 29 anos, ele se aposentou por invalidez, após o insucesso de uma cirurgia de catarata que o deixou cego de um dos olhos, provocando-lhe dificuldades visuais durante toda a sua vida, conta a filha Cristiane.
Após 41 anos de casamento, um câncer causou a morte de sua esposa, mais um evento doloroso para Sr. João e a família.
Com esperança de dias melhores, retornou a Boa Esperança. “Na tranquila cidade, dirigia o seu carro, que era uma paixão; pescava com o cunhado e recebia puxões de orelha da irmã mais velha”, lembra a filha.
Em 2019, ele descobriu uma arritmia que necessitaria de um implante de marca-passo. Em Varginha, cidade referência em cirurgia, ele foi contemplado a receber o implante após sentir forte cansaço e falta de ar.
Durante o período angustiante de hospitalização, foram os seis netos que trouxeram sorrisos e alegrias através de videochamadas por celular ao avô. “Eles tinham certeza que o Vô Jão logo sairia daquela enfermidade”, declara Cristiane.
A cirurgia passou, mas a falta de ar não...
Ficam a esperança e o exemplo de honestidade desse homem que tanto lutou e encantou.
João nasceu em Boa Esperança (MG) e faleceu em Varginha (MG), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de João, Cristiane Neves de Morais Bueno. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Denise Stefanoni, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de outubro de 2020.