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João Carlos Souza Azevedo

1956 - 2020

Sempre de bom humor, adorava ajudar o próximo. Era o melhor churrasqueiro de Aracaju.

Conhecido pelos amigos como JCA, era técnico em telecomunicações e tinha muito orgulho da profissão. Amava o que fazia, e fazia como ninguém! Era questão de honra estar sempre presente, trabalhando o quanto fosse possível. Muito responsável, detestava se atrasar ou precisar faltar ao trabalho.

Fez muitos amigos ao longo da vida. Cativava todos com seu jeito brincalhão e animado, fazia churrascos e reunia constantemente os companheiros no “Boteco F2”, como apelidou carinhosamente o cantinho da rua onde se encontrava com os amigos. Para João, tudo era motivo para lotar o F2. Inventava inauguração de banheiro do vizinho, reparos na calçada de casa ou ainda qualquer reforma na vizinhança já era motivo para uma reunião. Plantou várias árvores no Boteco F2 para deixar o ar mais fresco para os convidados, e ai de quem atrapalhasse! João ficava uma fera, mas só até alguém elogiar o churrasco dele, aí tudo voltava ao seu devido lugar.

Dividiu a vida durante trinta e nove anos com Edileusa, a melhor parceira que João poderia ter. Os dois eram como cão e gato, mas não se desgrudavam um minuto sequer. Partilharam a vida, e a cervejinha com petisco no mercado da cidade todos os sábados. Os frutos da união baseada em amor e ódio (de mentirinha) não demoraram muito. Três filhos, dois netos e a Branquinha, uma doguinha, que também era da família.

Aliás, amava estar em família! Inventava sempre uma receita nova de pizza, uma nova forma de preparar a carne ou qualquer outra desculpa que fosse suficiente para reunir os genros e netos. A Branquinha sempre se divertia nesses eventos, mas os dias comuns também não eram tão ruins assim. Todos os dias, às 19h em ponto, lá ia ela pedir comida a João. Ele resmungava que a cadelinha atrapalhava seu cochilo no sofá, mas ia atender a vontade dela mesmo assim. Era da sua natureza fazer o bem.

Com o astral permanentemente lá em cima, fazendo todos a sua volta sorrirem, estava sempre disposto a ajudar quem quer que precisasse. Arranjava tempo, comida ou o que fosse preciso, mas sempre arranjava um jeito. Adorava futebol, gostava de uma pelada aos finais de semana. Correto como só João era, gostava de tudo conforme as regras. Não suportava uma injustiça, não aguentava uma ilegalidade. Era íntegro e justo.

João foi tudo que poderia ter sido, da melhor forma possível. Seus familiares e amigos morrem de saudade todos os dias. Por enquanto, o boteco está fechado por tempo indeterminado. Ninguém faz churrasco como JCA. Às vezes, as árvores que ele plantou trazem no balanço dos galhos um cheirinho especial, é o tempero que ele usava, junto com a risada e o bom humor que só ele tinha.

João nasceu em Aracaju (SE) e faleceu em Aracaju (SE), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de João, Tirzah Azevedo. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 23 de fevereiro de 2021.