1935 - 2020
Profissional memorável. Avô inesquecível.
Um pai que escolheu sua filha, Brenda. Avô carinhoso e presente da neta mais velha, Pamela, e dos mais jovens: Roger e Diogo. Companheiro de vida de Ezilda Pamplona Moreira por 53 anos. Vascaíno. Remista. Amante da leitura dos jornais de Belém e dos açucarados e “proibidos” chocolates, que escondia sob a cama após ser diagnosticado como pré-diabético.
João Diogo de Sales Moreira teve uma carreira memorável no Ministério Público do Estado do Pará. Foi o promotor de Justiça que acusou e prendeu todos os mandantes da chacina de Eldorado dos Carajás. A postura de retidão, a coerência e a honestidade que norteavam seu trabalho, entretanto, eram apenas reflexos de valores pessoais sólidos que o guiavam em todas as esferas de sua vida.
O trabalho, a família e o Clube do Remo - não necessariamente nessa ordem - foram os pilares que deram sentido às coisas importantes da sua vida. Tudo, é bom lembrar, envolto em doação pessoal, simplicidade e amor.
Um homem de essência simples e que andava pela vida sem grandes luxos. Pelos amigos é sempre lembrado com muito carinho, respeito e reconhecimento pelo grande profissional que foi.
Embora não fosse um homem de verbalizar o amor que sentia, ele foi a prova de que somos mais o reflexo de nossos atos que de nossas palavras.
Sua esposa, Ezilda, não podia ter filhos, mas Heumar, irmã dela, teve quatro. Diante da dificuldade financeira que a sua cunhada passava, João Diogo, junto com a esposa, ajudou financeiramente Heumar e criou todos juntos a Brenda, filha caçula de Heumar. Nesse contexto nasceu um vínculo muito forte entre eles, que pediram permissão para adotar a criança. Tiveram, então, uma filha de criação e coração, chamada Brenda Pamplona Moreira.
Brenda cresceu, estudou, casou-se e teve sua primeira filha: Pamela. Em março de 2007, entretanto, o marido de Brenda teve sua vida abreviada por um acidente de carro. No mesmo ano, o senhor João Diogo fez questão de acompanhar Pamela na festa de dia dos pais do colégio para que ela não se sentisse tão triste por causa da data. A neta, que se define como “vovozada com orgulho”, relembra esse dia com um sorriso nos lábios. “Lá estava ele recebendo um boné do dia dos pais feito à mão por mim e lanchando comigo no parquinho do colégio.”
“Neném, vem nanar com o vovô.”
Pamela também fala sobre como sempre foi ligada aos avós: “Outra história é que sempre fui muito apegada aos meus avós. Desde criança dormia na cama com eles e isso se perpetuou até meus 17 anos.” Seu avô João Diogo era parceiro de filmes e programas de TV que às vezes assistiam juntos até a madrugada, principalmente se a programação tivesse na grade um “Programa do Bial”. Pamela lembra-se, ainda, da sensação de dormir enquanto seu avô alisava suas costas e acarinhava seus cabelos.
Outra memória significativa da neta foi o fato de o avô, até os 20 anos dela, nunca ter deixado de chamá-la carinhosamente de “neném”. Diz ela: “Enquanto escrevo essa lembrança, parece que consigo escutar a voz dele falando: 'Neném, escute o vovô. Eu só quero o seu bem'", pois essa era a forma como ele a tratava sempre que a aconselhava sobre algo importante da vida.
Para João Diogo a felicidade da família era motivo da sua própria felicidade. E assim a família continua sabendo que, mesmo sem ele estar fisicamente presente, lembrar do marido, do pai e avô continuará trazendo sorrisos, imitações carinhosas de seu jeito de falar ou de suas manias, tais como sua preocupação com a data dos boletos: “Ele tinha pânico de atrasar as contas, pois não gostava de dever a ninguém. Ele sempre ligava para a portaria do prédio para saber se tinha alguma conta dele”.
Como um ciclo que tem começo, meio e fim foi a vida de João Diogo. A última vez que a neta Pamela falou com ele foi para contar que estava grávida, notícia que foi motivo de muita felicidade.
“A sensação que tenho, depois de 20 anos, é que antes de eu chegar ao mundo o meu avô já estava cuidando dele pra mim e que esse é só mais um dia para falar o quanto ele foi incrível”, conclui a neta.
João nasceu em Igarapé-açu (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de João, Pamela Pamplona Cutrim. Este texto foi apurado e escrito por Josie Conti, revisado por Allanis Carolina e moderado por Rayane Urani em 15 de fevereiro de 2021.