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João Gilberto dos Santos

1980 - 2020

Festeiro e de uma alegria única, adorava um baile e espalhava sorrisos por todos os lugares.

Longe da família biológica, João Gilberto dos Santos viveu até os 18 anos em um orfanato de Boa Vista do Buricá (RS), distante aproximadamente 20 quilômetros da sua cidade natal, Três de Maio (RS). Mas, ainda na infância, foi abraçado por seus pais de coração, Leonir e Luíza, que cumpriram o papel de pai e mãe, despendendo amor e carinho em cada visita.

Filho de coração, João Gilberto era o mais velho de uma família de cinco irmãos. Além dele, são quatro mulheres. “Ele era o nosso guri”, lembra Leonir, aprendendo a lidar com a saudade do seu eterno menino, arteiro que só ele. “O João estava sempre alegre, feliz. Onde ele estava, as pessoas estavam sorrindo, brincando”, diz o pai.

Durante alguns anos, depois de João Gilberto chegar à maioridade, eles se afastaram em razão de mudanças de endereço. Porém, no final dos anos 90, se reencontraram no Vale do Rio dos Sinos. Depois, não se separaram mais.

A imagem do menino alegre e brincalhão deu lugar a um homem que, apesar das adversidades, ainda cultivava as características da adolescência. Apelidado de “Papagaio”, porque adorava conversar, João Gilberto gostava de passear e reunir a família para um bom churrasco. O último na casa de Leonir foi em 17 de maio. “Fizemos uma cabeça de porco assada”, lembra ele. Certamente o próximo seria no dia 24 de junho, aniversário de João.

João Gilberto era festeiro. “Ele gostava de um baile, adorava a Banda Rainha Musical”, conta Iara Cunha, sua companheira há cerca de dois anos. Assim como Leonir, ela também lembra de João Gilberto como uma pessoa extremamente sorridente. “Era muito alegre. Para ele, não tinha tempo ruim.” Com ele, Iara aprendeu a levar a vida de forma mais leve. “Acredito que nossas vidas se encontraram para que nos tornássemos pessoas melhores”, completa.

João Gilberto trabalhava como entregador de móveis em uma loja de departamentos. “Ele estava em um momento muito bom da vida dele. Tinha um emprego que gostava e estava perto do filho e da família”, diz Iara, contando que o menino Gabriel, de 12 anos — filho do primeiro casamento —, era o grande amor da vida dele. “Parece que Deus fez xerox do João”, brinca Leonir ao recordar a semelhança entre pai e filho.

João nasceu em Três de Maio (RS) e faleceu em Sapiranga (RS), aos 39 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela companheira e pelo pai de criação de João, Iara Cunha e Leonir Gonçalves Soares. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Thaís Lauck, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2020.