1941 - 2021
Mais que a barba e o cabelo, mudava o dia dos clientes com suas histórias.
Barbeiro de profissão, Joaquim era um contador de histórias nato! Nenhum cliente deixava a sua cadeira sem a barba e cabelo bem feitos e uma boa história para guardar na memória.
A maior parte dessas histórias eram engraçadas e tinham como personagem principal um japonês, um careca ou um policial. “Meu pai foi um homem simples, que não precisava de muito para se alegrar e que com pouco alegrava os outros também”, conta a filha, Érica.
Quem não se lembra da história do dia em que ele guardou o picolé na mala pra comer quando chegasse em casa? “Ele contava e ria dele mesmo!”, lembra Érica.
Joaquim, com toda a sua simpatia e leveza, também era muito vaidoso. “Adorava usar branco. Dizia que queria estar sempre limpo e impecável”, conta a filha, que também se lembra que o pai fazia questão de estar sempre cheiroso.
Viveu muitos amores, sempre mostrando à família que seu coração era grande demais para ficar restrito a uma única casa. Joaquim era como um passarinho que só sabia viver na liberdade, dono de si e dos próprios caminhos.
Não era de datas, não era de presentes, mas era de um bom papo e de um grande sorriso, e, assim, conquistava a todos.
Como todo ser humano também guardava seus medos. Quem o conhecia bem, dizia que Joaquim era bastante medroso! Tinha medo de espíritos, de ladrão, de envelhecer, de ficar doente e morrer.
Ainda assim, nunca permitiu que seus medos fossem maiores que a sua vontade de viver e a sua capacidade de apreciar a vida e suas pequenas grandes surpresas, como os seus vasinhos que até hoje dão frutos das plantações que fazia.
Milho, abóbora, beringela, mamão ainda brotam na casa de Joaquim, assim como o amor, no coração de Érica e de todos os que conviveram com ele e seguraram, em pensamento, a sua mão para que não sentisse medo.
Joaquim nasceu em Boa Viagem (CE) e faleceu em São Lourenço (MG), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Joaquim, Érica Barbosa da Silva Tavares Cruz. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 21 de julho de 2021.