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Joaquim de Oliveira Neto

1970 - 2020

Cheio de garra e alegria, abraçou a vida com toda força. Amou a igreja, o trabalho, a família e foi feliz.

Amor à vida. Está aí um sentimento que nunca faltou para Joaquim. Não importava se o momento era crítico ou se havia alguma dificuldade para ser superada; ele levantava a cabeça, colocava um sorriso no rosto e seguia em frente de peito aberto, com coragem e cheio de energia. E sabe o que é interessante? De um jeito ou de outro, as coisas sempre se resolviam para ele, como costuma acontecer para as pessoas boas.

Joaquim tinha essa força desde a infância. Caçula de 12 irmãos, cresceu na Fazenda Santa Inácia, no município de Tupã, onde os pais trabalhavam. Foi na casa simples, de chão batido e sem luz elétrica, que Joaquim aprendeu uma lição que nunca esqueceu: a importância do trabalho bem-feito e executado com alegria.

Religioso, sempre deu muita importância às igrejas que frequentou. Isso desde a infância, quando participava das rezas de terços cantadas por Dona Dominga, lá na fazenda. Rezava com muita fé e depois ia pra os bailes organizados na sequência, porque também adorava dançar. Gostava tanto que, jovem, ganhou o apelido de Bolero, justamente pelos seus pés de valsa.

E não valia só dançar bem, ele tinha que estar muito bem-arrumado. Adorava cuidar da aparência e andar sempre bem-posto e perfumado. Esse capricho era por fora e por dentro, afinal Joaquim era aquela companhia que chegava para animar, sempre muito bem-humorado, criativo e brincalhão. Colocava apelido até em si para divertir o pessoal.

Quem mais aproveitava o senso de humor era a atual esposa e os filhos, em especial as gêmeas caçulas, de 11 anos, que moravam com ele, em São Paulo. A família era sua grande paixão na vida, por isso se dedicava muito a ela em todos os sentidos, principalmente dando o exemplo daquilo que era sua essência: honestidade, trabalho, espírito de luta e alegria.

Gostava também de demonstrar seu amor cozinhando e preparando aqueles pratos que só ele sabia fazer. Cozinhava tão bem que se acontecia de perder o emprego, não se chateava: corria para a cozinha, fazia os pães e bolos deliciosos e saía com a esposa para vender na rua, cheio de alegria. A clientela adorava e sempre pedia mais.

Fé. Está aí outro sentimento que nunca faltou para Joaquim, nem mesmo quando começou a pandemia do novo coronavírus. Trabalhando como segurança de um condomínio, um dos serviços essenciais da quarentena, reforçou a limpeza da casa, das roupas e das mãos, sempre atento ao bem-estar do próximo. Nos primeiros sintomas, correu para o hospital, foi medicado e voltou para casa. Como não melhorava, juntou dinheiro com a família para fazer o exame. Deu positivo.

“Ele queria muito viver pelos seus sonhos, pela sua esposa e pelas suas filhas gêmeas”, contou o irmão Milton Oliveira. “Pela nossa diferença de idade, convivemos pouco e, desde que a nossa mãe faleceu, não tivemos mais contatos presenciais. Falávamos sempre por telefone. Estava definido que nas férias desse ano ele e a família viriam me visitar em Paraguaçu Paulista, mas não tivemos essa oportunidade.”

Força, Milton. O encontro virá!

Joaquim nasceu em Tupã (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo irmão de Joaquim, Milton de Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Sarah Fernandes, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de outubro de 2020.