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Jocelino Maranhão da Silva

1954 - 2020

Dono de um imenso coração, Laminha gostava muito de curtir a vida e confundia uxi com limão.

O Maestro, a Laminha e a Bicudinha eram algumas das paixões de Jocelino. "Maestro" era o nome do velho caminhão com que ele trabalhava; aliás, o trabalho o acompanhou desde muito jovem.

Não apenas na loja de materiais de construção, a Estância JMK, que traz as iniciais dos nomes das três filhas, mas por onde quer que passasse era reconhecido e querido por todos, que sempre gritavam seu nome e faziam questão de sua presença.

Aos sábados, dois rituais eram sagrados para ele: ligar para todos da família que moravam longe e tomar uma cervejinha bem gelada, chamada por ele de "Laminha", o que acabou por virar também seu apelido.

A terceira paixão ─ e a mais importante ─ era Maria Bicudinha, como ele carinhosamente chamava a esposa. "Meus pais foram casados por quatro décadas, mas meu pai sempre brincava dizendo que tinha namoradas. Minha mãe ficava emburrada com isso. Então, ele com aquele lindo sorriso brincalhão declarava que ela era o amor da vida dele. Ele era verdadeiramente apaixonado por ela", conta Katiane.

Bom de garfo, não havia quase nada que ele não gostasse de comer, mas frango, definitivamente, não era uma opção para Laminha. A filha Michelle, ao encaminhar com a irmã Katiane algumas recordações para compor essa homenagem, relembrou uma ocasião que ficará guardada na memória de todos: "Pensando que se tratava de um limão, certa vez meu pai pegou um uxi e tentou de todas as formas espremer a fruta seca e dura, foi uma situação bem engraçada pois não saía caldo algum do 'tal limão'".

Katiane, que deixou a casa dos pais aos 17 anos para estudar em Manaus, afirma: "Nunca irei esquecer do momento em que vi o olhar e as lágrimas dele ao ouvir meu nome na formatura. Familiares e amigos ocupavam três mesas de 12 lugares na festa e, ao anunciarem meu nome, um dos colegas ainda gritou bem alto para complementar: 'de Tucuruí'. Foi lindo ver e sentir tamanha felicidade e orgulho na expressão de meu pai."

Jocelino era muito querido pela mãe, pela esposa, pelas filhas Katiane, Michelle e Jaqueline e pelos netos Matheus, Ytalo, Raylan e Sophia, que hoje sentem muito a sua falta.

A família guarda na memória o homem de coração imenso, dono de uma alegria contagiante e que estava sempre sorridente e feliz.

A filha do meio de Jocelino, que nos contou um pouco da trajetória do pai, também foi uma das vítimas do novo coronavírus. A história dela também está guardada neste memorial e você pode conhecê-la ao procurar por Michelle dos Santos Silva.

Jocelino nasceu em Tucuruí (PA) e faleceu em Tucuruí (PA), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas filhas de Jocelino, Katiane dos Santos Silva e Michelle dos Santos Silva. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 12 de março de 2021.