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Joel Queiroz Machado

1940 - 2020

Gostava de assoviar músicas do tipo sertanejo raiz; e de compartilhar histórias da sua juventude.

Joel era bom por natureza. Tinha um semblante de bravo, mas se emocionava com qualquer coisa, principalmente com a família.

Da poltrona de sua sala, adorava observar os pássaros. Amava-os e sabia o nome de todos, tanto que até era de se pensar que alguns surgiam de sua imaginação.

Noveleiro de mão-cheia, aposentou-se com o propósito de ir pescar mais vezes, mas por fim, acabou ficando em casa, onde, nos últimos tempos, passou todos os dias assistindo às novelas e discutindo com a televisão.

Abraçava a causa de muitas pessoas, mas a família foi sua causa mais importante. Sempre fez o possível para mantê-la unida. Levantava todas as noites para conferir se todos estavam cobertos na cama. Seu sonho era ver sua esposa e filhos bem, financeiramente estáveis e felizes.

“Tinha pinta de bravo, mas era manhoso e carente... é importante enfatizar", conta sua neta Giovanna.

Joelzinho ou "seu Joel", como era chamado, foi uma pessoa muito amada e era sempre visitado por seus filhos e netos. "Era o centro da vida de todos", diz Giovanna.

Sua partida deixou um vazio muito grande na família, mas também muitas histórias.

Giovanna foi criada pelo avô e, com ele, criou laços inquebráveis. No dia do seu casamento, poucos meses antes da pandemia começar, ela foi levada até o altar pelo avô. Ela lembra com gratidão que foi o dia mais especial de sua vida.

Além de assoviar músicas do tipo "sertanejo raiz" o tempo inteiro, Joel adorava contar histórias, principalmente de sua época de juventude.

Com Giovanna, ele adorava lembrar-se da época em que ela estava com 4 ou 5 aninhos e ele cozinhava sua comida e sentava-se junto à neta, todos os dias, fazendo aviãozinho para convencê-la a comer. Distraía a pequena, perguntando para onde eles estavam indo.

O avô sempre ria muito ao contar essa história, pois a menina sempre respondia que os aviões vinham da cidade natal dele, Prudentópolis, ou da cidade vizinha, Guarapuava. “O melhor de tudo era como ele se divertia com essa lembrança”, recorda a neta.

Benevolente por essência, Joel deixa um caminho repleto de pessoas gratas por ele. Depois que faleceu, muitas pessoas fizeram questão de mostrar à família como eram agradecidas a ele, seja por terem conseguido arrumar um emprego ou uma cadeira de rodas quando precisavam.

“A definição de 'quem vê cara, não vê coração' confirma que sua 'pinta de bravo' não mostrava o tamanho do amor e da empatia que tinha dentro da armadura”, finaliza a neta.

Joel nasceu em Prudentópolis (PR) e faleceu em Arapongas (PR), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Joel, Giovanna Caroline Santana. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Raquel Rapini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 25 de outubro de 2020.