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Jonas Gomes da Silva

1944 - 2020

Não tinha ninguém que não embalasse junto com a gargalhada do Tio Jonas.

Conhecido por Tio Jonas, torcedor fanático do ABC Futebol Clube - o Mais Querido - o primeiro clube de futebol do Rio Grande do Norte, era um homem capaz de tudo.

Ainda jovem, superou um grave acidente ferroviário que lhe marcou para sempre. Sofreu esse acidente quando tinha 13 anos de idade, ficou por vários dias na UTI, quando o trem em que ele trabalhava vendendo jornal descarrilou, Jonas ficou pendurado pelo braço, que acabou ficando marcado.

Mas essas marcas nunca o impediram de trabalhar, e foi como pedreiro, que se tornou um dos melhores profissionais da região.

Logo conheceu Maria de Fátima com quem foi casado por 51 anos e tiveram cinco filhos, Jéfison (o primogênito), Jane Cleide, Jailson, Jailton e a caçula Jane Cléia.

Era um homem muito extrovertido, brincalhão, que sempre soltava uma palavra alegre no meio das suas conversas, e todos gostavam dele, porque sempre estava pronto para ajudar quem o procurava. Mas uma coisa que tirava toda a alegria dele era vir alguém dizer que seu time não vinha jogando bem... aí ele ficava chateado.

“Criativo que só, eu sempre o apelidava de MacGyver - personagem de uma série da televisão americana que resolvia tudo de forma inusitada - porque ele era igual, tudo ele transforma, tudo ele sabia e conseguia resolver”, conta Bujãozinho, como ele carinhosamente chamava Jane Cleide, que continua, “e não passava um final de semana sem a gente se ver, se eu não pudesse ir, ele vinha me visitar”.

Era bastante animado também. Além da paixão pelo futebol, também gostava do jogo de damas e de músicas. Amava dançar, era um verdadeiro "pé de valsa".

De sorriso fácil, quando sorria muito, sempre falava em voz alta “ai meu Deus do céu” e completava com uma gostosa gargalhada. E não tinha ninguém que não embalasse junto com aquela risada.

Mas toda essa alegria de viver, era a força que o fazia superar as adversidades da vida.

Tio Jonas, mestre de obras, pai, batalhador, conseguiu criar seus filhos, com muito esforço. Aos 60 anos descobriu um câncer na próstata... venceu o câncer. Após cinco anos, o câncer reapareceu e desta vez, mais agressivo e assim, ele mais uma vez, teve que ir para a UTI. Sobreviveu e venceu mais uma vez o câncer na mesma época em que descobriu ter insuficiência renal.

Em 21/05/20, um acidente doméstico obrigou o grande guerreiro a ser internado novamente. Nesse momento, ele passou a esperar por uma cirurgia para aliviar as dores que sentia no mesmo braço do acidente na infância. Daí começou uma outra luta para vencer uma pneumonia, que em primeiro instante foi vencida, mas na sequência vieram a insuficiência renal, uma infecção urinária e mais uma luta para vencer. Controlada a infecção, quando tudo parecia entrar nos seus devidos lugares, não demorou muito, foi acometido pela Covid-19... esta levou Jonas para o respirador artificial, e mais uma vez à UTI. Desta vez, não foi ele quem venceu.

“Mas é com um sorriso de criança levada, que sempre me dava conselhos e aceitava os meus, que vou me lembrar dele. Sempre falo que éramos almas gêmeas porque somente comigo ele conseguia se abrir e dizer o que estava sentindo. Fica agora a lembrança dele sempre na porta de casa jogando dama com um amigo... essa é a imagem que não me sai da cabeça toda vez que vou até lá ver minha mãe”, desabafa emocionada Jane Cleide.

Além dos cinco filhos e da esposa, ele deixa sete netos, Jameson, Janefer, Sara, Jhonatan, Jann Davi, Jainny e Maria Heloiza, e uma bisneta, a Jasmyne, e ainda a Karoline, neta de coração que o presenteou com outra bisneta, a Maria.

Ele partiu, deixando em todos que conviveram com ele uma saudade enorme e uma linda lembrança do grande homem e guerreiro que foi, respeitado por todos, que daqui o amarão eternamente.

Morre uma vida, nasce uma saudade!

Jonas nasceu em Natal (RN) e faleceu em Parnamirim (RN), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Jornalista desta história Alessandra Capella Dias, em 23 de janeiro de 2021.