1982 - 2021
Era com músicas que despertava a esposa e alegrava o momento de levar os filhos para a escola.
Onde estivesse e em tudo que fizesse, Jonathan era uma figura marcante. A tal ponto que associar seu corte de cabelo, no estilo samurai, e sua barba grisalha, em formato triangular, à figura de um mago não seria exagero.
Por dentro do sorriso de rosto inteiro, cativante, meigo e, em alguma medida, um pouco infantil - em decorrência dos dentes pequenos e do ato involuntário de fechar os olhos enquanto sorria -, estava um homem forte, carinhoso e determinado. Seu jeito de conduzir a vida, trazia magia e alegria aos momentos corriqueiros do dia a dia.
Fruto do amor de Mari e João, Jonathan teve o nome escolhido em consultas feitas junto aos familiares. Os pais estavam indecisos entre “Jean” e “Jonathan”. Acabaram decidindo pela segunda opção, pois gostavam muito de uma série de TV chamada “Casal 20”, cujo protagonista tinha esse nome.
A gestação e o nascimento de Jonathan, ocorridos na cidade de Pato Branco, no Paraná, significaram um fato marcante que motivou ainda mais a união do casal. Dona Mari conta que o filho somente deu trabalho até um ano de idade, uma vez que não dormia a noite toda. Com isso ela e seu João se revezavam nas madrugadas, paparicando e cuidando do recém-nascido. Nos outros trinta e sete anos que se seguiram, a relação do filho com os pais sempre foi marcada pelo cuidado e carinho mútuos.
Pouco tempo depois do nascimento dele a família mudou-se para Cuiabá, no Mato Grosso. E esse acontecimento traz para a história um fato pitoresco da infância de Jonathan: as viagens para visitar os avós em Pato Branco, no estado no Paraná. Seu João, que era dono de uma caminhonete, colocava uma capota naval no automóvel e um colchão de casal na carroceria. Era neste espaço que as crianças realizavam o trajeto de 1.600 quilômetros. Dormiam, faziam refeições e, como não poderia deixar de ser, faziam aquela bagunça saudável. Paradas para dar uma organizada na carroceria eram inevitáveis. Jonathan esperava ansioso a visita aos cafés coloniais - estabelecimentos típicos do Paraná -, e se fartava com as guloseimas oferecidas nessas ocasiões. A irmã Maíra conta que eram momentos de muita alegria e diversão para todos.
Já como adulto, todos os sábados, Jonathan saía de Cuiabá, no estado do Mato Grosso, e viajava uma boa distância até Campo Verde, no mesmo estado, onde passava o final de semana com os pais e, muitas vezes, com os irmãos Maíra e Rafael além de outros integrantes da família. Antes de percorrer os 150 quilômetros, a descendência italiana falava alto, e ele ligava ou mandava mensagens avisando que preparassem o pão com salame e queijo.
Dona Mari ressalta que Jonathan era muito carinhoso e sempre a abraçava e beijava. A mãe rememora que o filho era um bom conselheiro e sempre se preocupava com os pais. No olhar de mãe o que mais causava admiração era o jeito calmo de falar, marcado por muita maturidade e serenidade. “Tinha vezes que parecia que ele era nosso pai”, assinala dona Mari.
Quando percebia que a irmã Maíra, que também mora em Cuiabá, passava um tempo maior sem ir visitar os pais, ele dava aquele pito carinhoso de irmão. Dizia que ela não deveria ficar tanto tempo sem vê-los, salientando que “nossos velhinhos não vão durar para sempre”.
Na relação com os irmãos, cumprindo o lugar de filho mais velho, Jonathan assumiu, desde pequeno, o papel de pacificador. Maíra conta que com ele jamais aconteciam dessas brigas, tão comuns entre crianças. Quando ocorria alguma desavença entre ela e Rafael, lá estava Jonathan para acalmar a situação. O rapaz também foi um bom conselheiro para os irmãos durante toda a vida. Agradecida, Maíra relata que se estava indecisa ou precisasse de algum suporte, sabia que podia contar com o irmão. “Se eu fosse comprar um carro, por exemplo, era com o Jonathan que eu falava e pedia ajuda” acrescenta.
A alegria e a festa eram partes de seu cotidiano; intenso e desejoso de sempre desfrutar o lado bom dos momentos, ele não se preocupava em economizar; seu lema era viver bem. A irmã Maíra lembra que mesmo nos tempos em que estavam com o orçamento apertado, ele dizia “vamos tomar a nossa cerveja e assar uma carne”. Os churrascos organizados por ele eram fartos e alegres. A irmã recorda que muitas vezes, em plena segunda-feira, ele dizia que queria comer o hambúrguer que só ela sabia fazer. Outro prato muito apreciado por ele eram as pizzas que pedia regularmente por delivery.
Jonathan era casado com Adriana, com quem teve os filhos Maria Júlia e João Paulo. A dimensão da amorosidade e do cuidado entre eles também eram imensuráveis. Por muito tempo o despertador de Adriana foi o som do celular de Jonathan, tocando a música “Home”, de Michael Buble. Se o dia permitisse, a melodia anunciava também um saboroso café da manhã na cama, precedido de um beijo de bom dia e acompanhado de conversas sobre o cotidiano. A esposa descreve Jonathan como "uma ilha de tranquilidade em meio a tempestade. Como um mar transparente, no qual através das águas límpidas, era possível ver o coração afetuoso.", recorda, saudosa. Impossível se esquecer do brilho dos olhos e das conversas sempre agradáveis que tinham antes de dormir. O grande aprendizado que teve com o marido foi que “todo dia é dia de viver plenamente e fazer as coisas que a gente ama”, conclui.
Com os dois filhos, bastava um final de semana em casa para que Jonathan ficasse radiante de alegria. Na hora de levar e buscar as crianças na escola, o pai atento e zeloso procurava saber como estavam as coisas e escolhia como fundo musical, as canções que eles mais gostavam. A canção “Dynamite”, da banda BTS, era uma das que ele mais tocava para a filha Maria Júlia, buscando alegrar o dia da menina. Nos incontáveis trajetos, Jonathan também gostava de ouvir as piadas do filho João Paulo.
Os aniversários da filha eram dias de flores. Jonathan explicava que era um ato de educativo de amor, dizia: “minha filha saiba o que é ser respeitada e amada para que escolha um companheiro amoroso e respeitoso para se casar”. Nessa mesma linha de educação, a partir de seus princípios, Jonathan tinha um hábito quando ia viajar e, antes de sair, dizia ao filho João Paulo: “cuida das nossas mulheres. O papai está viajando e agora você é o homem da casa”.
Com a esposa e os dois filhos, Jonathan deixou um sonho projetado. Uma casa nova que contou com a participação de todos, desde o momento da elaboração do projeto arquitetônico. Assim, cada detalhe foi pensado para acolher os desejos de todos. A concretização desse sonho será concluída para honrar o sonho de Jonathan.
Havia outras crianças morando no coração desse homem que foi puro afeto. A sobrinha e afilhada Rafaela conta com espontaneidade infantil que “o Dindo era muito especial. Sempre dormia na minha casa e trazia meus primos pra brincar. Eu amava quando todos estavam aqui. Ele me pegava no colo e me jogava pra cima.”
A cunhada Dayana relembra os momentos de convivência com Jonathan. Em sua animação, ele sempre prometia que iria levá-la a algum lugar para, por exemplo, provar um lanche gostoso. Irônico, brincava com o medo de avião de Dayana e dizia que ela iria gostar de fazer uma viagem dessas, completando com seu tradicional sorriso: “é tranquilo... tirando as turbulências!”
O jeito carismático de Jonathan foi de grande valia na profissão que escolheu. Rodrigues, como era conhecido na fábrica de motores e geradores, era um excelente vendedor. Foi contratado inicialmente como auxiliar de almoxarifado e, com o tempo, e por seu desempenho, foi subindo degraus na hierarquia da empresa. Com uma memória invejável, tinha o catálogo de produtos na cabeça, o que também colaborou para que ficasse em primeiro lugar de vendas em todo o país. Em reconhecimento ao seu bom trabalho, foi promovido a supervisor geral de vendas de peças, tendo sob sua responsabilidade a gestão das ações de uma das regionais no Brasil.
Jonathan segue vivo na frase “seja forte e corajoso” tatuada em seu braço e, também, na pele da irmã Maíra; nas gargalhadas marcantes compartilhadas com a esposa Adriana; nas lembranças do padrinho sorridente, amoroso e brincalhão, guardadas por Rafaela e Manuela; nos desenhos retratando o “Dindo”, feitos por Manuela, com amor e saudade; no sabor do café doce, feito pela cunhada Dayana, ao qual Jonathan associava a paixão dela pelo irmão Rafael; no cheiro único e particular do filho, sentido pela mãe Dona Mari.
Jonathan nasceu em Pato Branco (PR) e faleceu em Cuiabá (MT), aos 38 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Jonathan, Maíra Rodrigues Dalgallo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ernesto Marques, revisado por Francisco Clailton de Morais e moderado por Rayane Urani em 13 de setembro de 2021.